quinta-feira, 1 de março de 2012

Revolvo





"A tarefa de amolecer diariamente o tijolo, a tarefa de abrir caminho na massa pegajosa que 
se proclama mundo, esbarrar cada manhã com o paralelepípedo de nome repugnante, com 
a satisfação canina de que tudo esteja em seu lugar, a mesma mulher ao lado, os mesmos 
sapatos e o mesmo sabor da mesma pasta de dentes, mesma tristeza das casas em frente, do 
sujo tabuleiro de janelas de tempo com seu letreiro HOTEL DE BELGIQUE. 


[...] 


E não é mau que as coisas nos encontrem outra vez todo dia e sejam as mesmas. Que a 
nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio e que o romance aberto em cima da 
mesa comece a andar outra vez na bicicleta de nossos óculos, por que haveria de ser mau? 
Mas como um touro triste é preciso baixar a cabeça, do centro de tijolo de cristal empurrar 
para fora, em direção ao outro tão perto de nós [...] Não pense que o telefone vai lhe dar os 
números que procura. Por que haveria de dá-los? Virá somente o que você tem preparado e 
resolvido, o triste reflexo de sua esperança... 


[...] 


E se, de repente, uma traça pára pertinho de um lápis e palpita como um fogo cinzento, 
olhe-a, eu a estou olhando, estou apalpando seu coração pequenino, e ouço-a: essa traça 
ressoa na pasta de cristal congelado, nem tudo está perdido. Quando abrir a porta e 
assomar à escada, saberei que lá embaixo começa a rua; não a norma já aceita, não as 
casas já conhecidas, não o hotel em frente; a rua, a floresta viva onde cada instante pode 
jogar-se em cima de mim como uma magnólia, onde os rostos vão nascer, quando eu os 
olhar, quando avançar mais um pouco, quando me arrebentar todo com os cotovelos e as 
pestanas e as unhas contra a pasta do tijolo de cristal, e arriscar minha vida enquanto 
avanço passo a passo para ir comprar o jornal da esquina. 

(Julio Cortázar, Histórias de Cronópios e Famas) 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Desterro


Tenho certo receio de não ser capaz de cumprir meu destino.  Destino este que tracei quando pequeno, mas acho que não tão pequeno assim. Que cultivei desde sempre que me lembro, destinos multifacetados os quais representavam cada querer meu. Quereres que caminhavam ora a galope, ora a rebote; enquanto me balizava por estes novelos, fiava meu desterro.

Vejo-me por estes dias e sempre me desagrado. Ao meu, mim... talvez menos. Mas há a confusão de todos os que flutuam amorfos, meio carcomidos meio completos: pequenos, sonhos-eus-desejos, que insistem em emoldurar em cores e preto e branco o espaço vital, que teimo em chamar de meu, e das quais prenuncio os significados que gostaria de tê-los sido.

Porque me urge, sempre, a vontade de dizer: meu. Possuir, aspirar, fumar, devorar e queimar são metonímias nesta alquimia própria, túrgido eu em panelas, em galinhas e couves. Talvez o cinza que me sustenta, esta argamassa que me imobiliza, seja na verdade a matéria da qual não desvaneço nem transcendo, tão pouco entendo.

Porque tive sem ter, sem intermediações pecuniárias, e ingenuamente acreditara nisto. Por um bom período de tempo: da porta da casa à rua. 

Meio desiludido. 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Dói muito. 
Assustadoramente real, um drama crítico, belissimo, difícil, feio, que te acerta, te levanta, te desnorteia. 
Talvez a relação de amor-ódio  que se ergue em torno deste filme é reflexo do que é: uma das melhores obras já feitas nesta arte, que como arte se desenrola através dos tempos.
É difícil ver porque é de uma realidade 'pegajosa de vida', impactante, bela, próxima (e queremos que distante), que às vezes faz com que não o queiramos mais em certos momentos. 
Dói, porque não é barato. 
Dói porque ainda assim temos esperança, lá no fundo, 
de que as coisas podem ser diferentes, para melhor. 
Mas sem ação, estamos fadados a permanecermos meio que estasiados, pós-modernamente extasiados.

É biutiful
não em espanhol, 
ou ingles:.
É belo,
porque mundo.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O blog


Com certo receio e sem saber se estou ajudando ou prejudicando. Jorge Ben é um dos caras mais geniais que já pisou na terra, acho que é meio redundante falar de gênio e jorge ben juntos. 
Mas ultimamente tenho por cá que ele está bastante ... estranho. Ele colocou na página dele um pedido de "ajuda dos fãs" para avisarem pra ele quando eles ouvissem uma música que parecesse Jorge Ben?
E depois leio por alto que ele acaba de fazer um show com o black eyed peas depois de uma batalha judicial que se arrastou por anos por direitos autorais (os caras não pagaram 'royalties'  dos samplers o jorgeben num disco aih).
Alias, acho que ele está com a razão nesse caso, é claro, 100% ao jorge da capadócia!
Mas vai que esse blog desponta mto e o cara fica bravo?
Vai saber...

De qualquer modo, um blog que faz tempo que não via um tão bom!!


Acessem! Corram! Tudo FLAC! Jorge Ben e Tim Maia, pra começar, entre outras raridades.

sábado, 20 de novembro de 2010

100 melhores albuns da música brasileira - Rolling Stones

Qual é uma das melhores linhas de baixo da histórica da música mundial?
R: a de Amor, do Secos e Molhados (1973)

não entendeu?
nem eu!

como pude ficar tanto tempo sem sacar isto?
que isso, é um absurdo ...
minha ignorância é absurda .....

---

Voltando ao real, acho que em 2007 a versão brasileira Rolling Stones lançou uma edição audaciosa: Os 100 melhores albums da música brasileira. Não de um gênero musical, mas da música brasileira como um todo. Reunir a música de um Brasil com estas dimensões universais é algo no mínimo perturbador! Cabe?!

Mas é só ver a lista dos 10 primeiros já ficamos felizes de perceber o valor artístico de tal empreita. Melhor ainda quando conseguimos reunir isso de maneira ainda mais desbravadora e democrática, utilizando a internet para difundir a boa música. 

Então, eu vou direcioná-los para o local onde há o torrent, que voces poe pra baixar em algum programa (uTorrent, bitcomet, azureus etc) por alguns dias, porque é um pouquinho lento. Mas vale muito a pena. 


Para quem não sabe usar torrent, eu gravo um dvd é só pedir =) presente de natal adiantado!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cinema e Direito - UFG 10 de novembro de 2010 ( 17:30m )

"Como outros tantos bilhões de nós, ela também não gostaria de reduzir a possibilidade de sua vida às condições que encontrou na prática. A vida seria tão grandiosa e tão intensa em sua possibilidade, se o humano pudesse ir além da simples necessidade! Essa, aliás, é a causa de sofrimento mais comum em nossa cultura, que vemos principalmente em nossos jovens, justo quando estão passando dum mundo predominantemente subjetivo para um mundo predominante objetivo (mas não necessariamente intersubjetivo) - a vontade de não reduzir toda a possibilidade de sua vida ao trabalho e a um modo único de vida. Temos tantos potenciais liberados pela cultura nos últimos anos, que se tornou mais duro ao indivíduo conformar-se a um modo de vida linear e único, e que quando o faz não é sem sofrimento. Lá pelas tantas, é verdade, as pessoas costumam se resignar e aprendem logo a chamar a isso de realidade, mas o número de alcoólatras, depressivos, drogados, maníacos, suicidas, ansiosos, mortos prematuros, criminosos, infelizes, todos bem sucedidos ou não, mostra que a aquiescência racional e voluntária não é tão pacífica assim."

João da Cruz

domingo, 17 de outubro de 2010

Entrevista com Francisco de Oliveira, Sociólogo, ex-Fundador do PT

Francisco de Oliveira, sociólogo, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Em meados de 2003 ele rompeu com o partido, passando a frazer crítica extensiva ao governo Lula. Considero esta uma das melhores análises do governo lula, sobre dilma, marina, efeagá, psdb e política. Linguagem simples, claridade, e afirmações interessantíssimas, principalmente no tocante que: "Então, nessa história futura, Lula será o grande confirmador do sistema (capitalista)."

Sociólogo e fundador do PT afirma que 'Lula é mais privatista que FHC'

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

Folha - Qual a sua avaliação sobre o debate eleitoral no primeiro turno?
Francisco de Oliveira - Fora o horror que os tucanos têm pelos pobres, Serra e Dilma não têm posições radicalmente distintas: ambos são desenvolvimentistas, querem a industrialização...
O campo de conflito entre eles é realmente pequeno. Mas, por outro lado, isso significa que há problemas cruciais que nenhum dos dois está querendo abordar.



Que tipo de problema?

Não se trata mais de provar que a economia brasileira é viável. Isso já foi superado. O problema principal é a distribuição de renda, para valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família. Isso não foi abordado por nenhum dos dois.
A política está no Brasil num lugar onde ela não comove ninguém. Há um consenso muito raso e aparentemente sem discordâncias.

Dá a impressão que tanto faz votar em uma ou no outro...
É verdade. É escolher entre o ruim e o pior.

Qual a sua opinião sobre a movimentação de igrejas pregando um voto anti-Dilma por causa de suas posições sobre o aborto?
É um péssimo sinal, uma regressão. A sociedade brasileira necessita urgentemente de reformas, e a política está indo no sentido oposto, armando um falso consenso.
O aborto é uma questão séria de saúde pública. Não adianta recuar para atender evangélicos e setores da Igreja Católica. Isso não salva as mulheres das questões que o aborto coloca.

O que significa a entrada desse tema no debate?
Representa o consenso por baixo devido ao êxito econômico. Essas posições conservadoras ganham força. Há uma tendência a todo mundo ser bonzinho. Nesse contexto, ninguém quer tomar posições consideradas radicais.
Com o progresso econômico, há um sentimento de conformismo que se alastra e se sedimenta, as pessoas ficam medrosas, conservadoras. Isso está ocorrendo no Brasil.
Gente da classe C e D mostra-se a favor de uma marcha de progresso lenta e contínua. Eles não querem briga, não querem conflito. Por isso o Lula paz e amor deu certo.

Se as pessoas tornam-se conservadoras, o que explica a divisão do Brasil quando considerada a votação de Dilma e Serra nos Estados?
É um racha. Significa que a questão da desigualdade regional ainda é muito marcante. Aliás, essa é outra questão que está fora da discussão. Os dois não querem abordar o tema. O que eles têm a dizer sobre os problemas regionais? O que fazer com as regiões deprimidas?
Por baixo disso tudo está a velha história de que São Paulo é uma locomotiva que puxa 25 vagões vazios.
Essa tensão existe. Esse desequilíbrio vai criando a sensação de que há um lado pobre e um lado rico. Como se houvesse um voto comprado, de curral eleitoral, e outro consciente. Há de fato uma fratura, e isso ressurge em períodos eleitorais.

Marina aparece como uma terceira força sustentável?
Acho que não. A ascensão dela se dá pela falta de radicalização dos dois principais, e a questão do ambiente é relativamente neutra. Não vejo eco na sociedade, a não ser de forma superficial. Não é um tema que toca nos nervos das pessoas. A onda verde é passageira.

O sr. foi um dos primeiros a romper com o PT, em 2003, e saiu fazendo duras críticas ao presidente. Lula, porém, termina o mandato extremamente popular. Na sua opinião, que lugar o governo Lula vai ocupar na história?
A meu ver, no futuro, a gente lerá assim:
Getúlio Vargas é o criador do moderno Estado brasileiro, sob todos os aspectos. Ele arma o Estado de todas as instituições capazes de criar um sistema econômico. E começa um processo de industrialização vigoroso. Lula, é bom que se diga, não é comparável a Getúlio.
Juscelino Kubitschek é o que chuta a industrialização para a frente, mas ele não era um estadista no sentido de criar instituições.
A ditadura militar é fortemente industrialista, prossegue num caminho já aberto e usa o poder do Estado com uma desfaçatez que ninguém tinha usado.
Depois vem um período de forte indefinição e inflação fora de controle.
O ciclo neoliberal é Fernando Henrique Cardoso e Lula. Coloco ambos juntos. Só que Lula está levando o Brasil para um capitalismo que não tem volta. Todo mundo acha que ele é estatizante, mas é o contrário.

Como assim?
Lula é mais privatista que FHC. As grandes tendências vão se armando e ele usa o poder do Estado para confirmá-las, não para negá-las. Então, nessa história futura, Lula será o grande confirmador do sistema.
Ele não é nada opositor ou estatizante. Isso é uma ilusão de ótica. Ao contrário, ele é privatista numa escala que o Brasil nunca conheceu.
Essa onda de fusões, concentrações e aquisições que o BNDES está patrocinando tem claro sentido privatista. Para o país, para a sociedade, para o cidadão, que bem faz que o Brasil tenha a maior empresa de carnes do mundo, por exemplo?
Em termos de estratégia de desenvolvimento, divisão de renda e melhoria de bem-estar da população, isso não quer dizer nada.

Em 2004, o sr. atribuiu a Lula a derrota de Marta na prefeitura. Qual sua avaliação de Lula como cabo eleitoral de Dilma?
Ele acaba sendo um elemento negativo, mesmo com sua alta popularidade. O segundo turno foi um aviso. Há uma espécie de cansaço. Essa ostensividade, essa chalaça, isso irrita profundamente a classe média. É a coisa de desmoralizar o adversário, de rebaixar o debate. Lula sempre fez isso.

Como o sr. avalia as afirmações de que o comportamento de Lula ameaça a democracia?
Não vejo como uma ameaça. Mas o Lula tem um componente intrinsecamente autoritário.

Em que sentido?
Ele não ouve ninguém, salvo um círculo muito restrito, e ele tem pouco apreço por instituições.
Eu o conheço desde os anos de São Bernardo. Ele tem a tendência, que casa perfeitamente com o estilo de política brasileira, de combinar primeiro num grupo restrito e, depois, fazer a assembleia. Ele sempre agiu assim.
Não é pessoal, é da cultura brasileira, ele foi cevado nisso. Mas não que ele queira derrubar a democracia.
Isso é da cultura política em que ele foi criado: o sindicalismo, que é um mundo muito autoritário, muito parecido com a cultura política mais ampla. E ele se dá bem, sabe se mover nesse mundo.
As instituições de fato não são o barato dele. Mas ele não ameaça a democracia do ponto de vista mais direto nem tem disposição de ser ditador. Acho essas afirmações um exagero, uma maldade, até. Elas têm um conteúdo político muito evidente.
Agora, certa ala do PT, com José Dirceu... Esse tem projetos mais autoritários.

E essa ala ganharia mais força num governo Dilma?
Acho que não. Porque Lula vigia ele de muito perto. Lula não gosta dele [José Dirceu]. Tem medo, até, do ponto de vista político. Ele veio de outra extração, a qual Lula detesta. Uma extração propriamente política, de esquerda.

O sr. já disse que Lula havia matado a sociedade civil. O que pode acontecer num governo Dilma e Serra? Haveria diferença?
Os governos tucanos têm horror ao povo. Isso não é força de expressão. É uma questão de classe social.
Eles não têm contato com o real cotidiano popular. Eles não andam de ônibus, não têm experiência do cotidiano da cidade. Nem de metrô eles andam, o que é incrível.
A cidade é grande, tem violência, a gente sabe. Mas eles não sabem como é o transporte, como são os hospitais, as escolas públicas. Há uma fratura real, eles perderam a experiência do cotidiano real. E isso não entra pelas estatísticas, só pela experiência.
Por causa disso, o governo deles é sempre uma coisa muito por cima. Eles são pouco à vontade com o popular. Essa é a diferença marcante em relação a Lula.
Sobre Dilma eu não sei. Ela pode também sofrer desse mal.

Mas, do ponto de vista da evolução e da função dos movimentos sociais, qual dos dois é preferível?
Eis uma questão difícil. Os tucanos, com esse horror a pobre, tendem sempre a aumentar essa fratura, essa separação. Os tucanos não têm jeito...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

tamo chegando...










terça-feira, 20 de julho de 2010

Vida ...

Estava lendo sobre o acidente que matou o filho da Cissa Guimarães.
Engraçado como lembrei dela esses dias pra trás sei lá porque ...
Mas pelas noticias que li até agora, parece que o guri tava andando de skate num tunel fechado
e varios carros fazendo pega no tunel atropelaram o guri

Pelo que o morador que chegou primeiro ao local disse
que o rapaz foi arremessado a 60 metros de distancia
e tinha se arrebentado todo na queda...

Eu nem comentaria essa matéria porque há tanta barbárie
e absurdos nesse planeta
que atingem sei lá  tantos milhões de pessoas agora neste exato momento,
que fico quase sempre anestesiado por estas notícias.

Comento,
pois já presenciei um acidente de carro horrível.

E é horrível...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Futepolitikal


Se os Estados Unidos cruzarem com a Sérvia nas oitavas, Bill Clinton, o presidente que ordenou o bombardeio de Belgrado por mais de 40 dias, também vai assistir à partida ?