quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Futebol
FORÇA VASCO!
Atualização 22:14 - Está se desenhando um massacre...
Atualização 22:55 - Tá bom cara pálida, "embalados pela rebeldia do rock, os vascainos avançam nos atleticanos " (como se hoje não houvessem brigas; embaladas, claro, pelo rock tocado nas partidas de futebol atualmente)
Atualização 23:30 - Puta que pariu ... Eu vaticinei essa porcaria ...
Tycho Music

"You know you’ve experienced a great piece of art when you don’t even think to analyze it, the only thing happening is your senses observe whatever medium through which it was sent and your brain automatically registers it as beautiful."
Tycho é lento, uma mistura de eletronico com rockinho bobo de ontem-hoje, à primeira vista pode até parecer.
Mas das vezes que eu ouvi Tycho foram sempre experiencias agradilíssimas. Sua caracterização seria um downbeat, ambient music, mas com muita psichedelia digna do rock. Tycho é, então, música eletrônica atual.
Mas uma música eletrônica pensada por um cara só que faz toda a banda. Desde tocar o baixo, até procurar os samplers vocais, as melodias no tecladinho bobo e sintetizador, e os solinhos de guitarra. É um projeto muito mais que alternativo. Simplesmente ele nunca vendeu um album por um selo real eu creio, apenas trabalha no mundo virtual, divulgando nas redes sociais, como myspace, etc criando música de estilo muito novo, marcando shows e tudo o mais.
Diria então, que Tycho é a primeira produção (estilo de criar, disponibilzar, vender, realizar, e ainda mais, estilo musical derivado, novissimo, blended) do novo milênio que eu ouvi e gostei pra caralho. Tycho faz parte da minha história.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
A Sociedade do Espetáculo - 3

O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência. Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação generalizada.
Sobre cupins e alados
Além disso, sempre fiquei maravilhado com certas coincidências. Principalmente quando você não espera por nada, talvez porque não estivesse pensando no lance, e ela vem com uma força arrebatadora, te espreme por baixo do teu nariz clamando:
"Olhe, olhe só! Venço o caos da vida e instauro um momento de aparente magia e causalidade! E nem me venha com essa história chinfrim de que você não pensou nem por um segundo em Oxalá, Kami-sama, ou um puto inominado Deus, seu idiota, que eu sei que na sua pequenez você se pegou pensando ‘porra!’”.
Só que hoje não foi desse jeito, o que em nada diminui o meu contentamento, pelo contrário, se mescla alegremente com o coaxar dos sapos que entopem os canos aqui do prédio velho no Cepaigo; eles sim, mais felizes ainda com essa chuva que eu, que acho que ela poderia se estender por uns bons 10 dias sem que me passasse um segundo de preocupação com o “transtorno” que a chuva traz.
Almoçando, olhando as nuvens que antes estavam bem carregadas, um fio de vento a soprar, eu lembrei da Pamonharia Bueno. Ah, minha segunda toca, meu boteco sem ser botequin, tipicamente goiano, onde o queijo minas era tão fresco que vinha bem molinho derretendo no prato. Íamos eu e o Gabriel pra lá costumeiramente, mas tentamos arrastar ainda alguns de nossos amigos, mas calhava-nos pela proximidade dos lares {o meu era bem em frente, eu podia voltar bêbado que fosse [só precisava não ser esmagado como um sapo na T4 (crooarrr.... croaarrr!)]}.
A Bohemia® ainda não era uma cerveja produzida em ultralarga escala, portanto ainda conservava alguma excepcionalidade, e constantemente seu sabor que me lembrava “flores” (e que felicidade ao saber que não era o único no mundo a achar, a Paula também me disse o mesmo! Não era maluquice minha!), o queijo era bom, a mesa era a de sempre, o garçom cara de jeca-tatu também, e tudo era barato. E em bons tempos de trabalhos e provas finais, tantas “preocupações” e receios, nossos embates filosóficos se tornavam cada vez mais acirrados.
Era com esta nostalgia presente; abrindo meu correio electrónico, vi que meu velho amigo havia deixado um comentário numa de minhas postagens. Um pequeno poema de Nietzsche, chamado “Entre amigos (um epílogo)”, que pedindo já licença tomo a liberdade de reproduzi-lo aqui.
Entre amigos (Um epílogo) – F. Nietzsche
1.
É belo guardar silêncio juntos
Ainda mais belo sorrir juntos -
Sob a tenda do céu de seda
Encostado ao musgo da faia
Dar boas risadas com os amigos
Os dentes brancos mostrando
Se fiz bem, vamos manter silêncio;
Se fiz mal - vamos rir então
E fazer sempre pior,
Fazendo pior, rindo mais alto
Até descermos à cova
Amigos! Assim deve ser? -
Amém! E até mais ver!
2.
Sem desculpas! Sem perdão!
Vocês contentes, de coração livre,
Queiram dar, a este livro irrazoável,
Ouvido, coração e abrigo!
Creiam, amigos, a minha desrazão
Não foi para mim uma maldição!
O que EU acho, o que EU busco -,
Já se encontrou em algum livro?
Queiram honrar em mim os tolos!
E aprender, com este livro insano,
Como a razão chegou - "à razão"!
Então, amigos, assim deve ser?
Amém! e até mais ver!
Como um texto tão belo e alusivo, será que poderia dizer mais do que suas palavras escritas? Me pego então pensando... A intenção do meu amigo; qual frase ele repousa o olhar e se lembra de mim... Qual a real intenção de meu amigo ao enviar este poema como comentário, um poema que por si só é ambíguo, mas claríssimo; analisando todo o contexto, será que poderia haver outra leitura?
Digo isto pois senti um sonoro arrepio ao ler a frase, “até descermos à cova” pois me recordara imediatamente de “Lie in our graves”. Se existisse um culpado por mais esta ligação seria com toda a certeza o infeliz do Gabriel, sujeito e substrato, também condenado por colaborar com meu reencontro espiritual com o Rio de Janeiro neste ano, há um mês e pouco atrás.
Enredado pelas indagações que a linguagem críptica nietzscheana do pequeno epílogo me trouxe, sinto que estou muito sufocado pelas paredes para pensar, e vou ver um pouco a chuva lá fora pra espairecer. Qual minha surpresa, quando chego à porta, pequenas “aleluias” estão alçando seu vôo desajeitado da grama, enquanto pardais, bem-te-vis e suiriris as atacam em pleno vôo (o que considero sempre um ótimo presságio meu amigo Gabriel!).
Oras caralho, existe mais alguma coisa a me jogar nessa dialética, neste pensar que se cai por inacabado? Um momento Sr. Universo, preciso saber qual a intenção de meu amigo, se existia ainda algo que não estava a descoberto! Não preciso de mais avisos que me lancem mais e mais à esta problemática!
Será que ele teme que eu possa estar me quedando demais por um livro, e a transcrição de todas as suas teses seria contraditório, um tiro no pé? Assim ele me lembra, com toda a alegria, de Nietzsche e seu caráter anticientífico, antidoutrinário, contra todos os ídolos e a própria razão! Uma preocupação legítima já que, após um ano de existência deste pequeno espaço, minha proposta inicial era buscar um caminho único, um pouco como os ronins do antigo Japão feudal.
Guiar me por um livro, mesmo que somente como roteiro interpretativo, poderia interferir de forma decisiva nesta jornada, no meu aprendizado. Poderia interferir na leitura de meus amigos, dos que chegam aleatoriamente a este nicho. Serviria então como um alerta sutil e elaborado de meu irmão, de alguma forma, neste intuito.
Talvez ele quisesse relembrar a distância que teima em antepor entre os amigos e todas as outras pessoas e seus afetos, distância que esmaece vagarosamente as cores da casa; mas esta distância e o tempo não são um empecilho muito grande, visto que a cada reencontro, agimos como se nada houvesse estado, este tempo imenso, entre a vida.
Ou ainda: as pequenas mágoas, os desentendimentos, estes desencontros que vão interferindo na comunicação entre os seres, imersos em uma necessidade cada vez mais preemente de auto-afirmação e competição; o lugar para a solidariedade e cooperação no mundo atual cada vez mais distante, perdido numa das utopias libertárias dos anos 60, pois estes seres são nascidos em uma época onde ainda há o vislumbre do utópico, embora o presente se encarregue cada vez mais de apagar a ferro e fogo a memória destes sonhos por dias melhores. "As coisas são assim, acostume-se".
Angustiado, com todas estas pequenas conclusões provisórias; pensativo, ensimesmado, assaltado pelas conjecturas do universo, que me remetia cada vez mais a este poema que teimava em se apresentar tão claro mas tão distante, eu estava.
Quando eu, de algum modo, compreendi.
Muito obrigado.
Ps: O blog do meu amigo Gabriel é o Usina de Pensamentos.
Recomendo uma boa lida, está nos links ali ao lado.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
A Sociedade do Espetáculo - 2
domingo, 9 de novembro de 2008
A Sociedade do Espetáculo - 1
Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação.
sábado, 8 de novembro de 2008
A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord
Nosso tempo, sem dúvida . . . prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser. . . O que é sagrado para ele, não é senão ilusão, mas o que é profano é a verdade. Melhor, o sagrado cresce a seus olhos à medida que decresce a verdade e que a ilusão aumenta, de modo que para ele o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
Feuerbach - Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo.
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terça-feira, 28 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Chegaremos às Índias, meu capitão?
terça-feira, 21 de outubro de 2008
O gato vadio
Pusilânime.
Talvez aí residissem os problemas na convivência. Por que se angustiar com as pequenas coisas... Mas não somente; o que se observava (ou só se observava) eram os pequenos acintes da vida cotidiana. O desviar a atenção, resvalar com o ocorrido e deleitar-se, como tudo isso era difícil (lembrávamos...) em certos dias na vida.
Dias que se prenunciavam serenos. Mas não. Algo de brilhante conseguia destruir a pretensão inútil do equilíbrio. Seriam sintomas de alguma doença? Mede-se o pulso: o que hoje habita incontinenti também se cansará.
Tudo porque aquele gato vadio, que se esgueira sempre pelo muro, desceu a terra. Primeiro, olhava de soslaio, o deslizar vagaroso sobre o fio que fundava e estancava as divisões da propriedade. Fingia que não era com ele, eu absorto em meus polegares, quando saltou à pilha de tijolos, o barro cozido aguardando o retomar da obra, das reformas, da ampliação e da demolição.
Agora repousa ao meu lado, ronrona baixo. Pensamos juntos, eu e o gato. Ele, não sei o que pensa. Possui aquela consciência de ser uno com o universo, coisa que abdicamos tempos atrás quando descemos das árvores e fomos experimentar as savanas. Eu, ainda penso no muito que ganhamos, sentindo falta do que perdemos, com esse gambito.
Now playing: Esbjörn Svensson Trio - 'Round Midnight
via FoxyTunes
terça-feira, 23 de setembro de 2008
A headstone (pour le passé des moments difficiles)

All that you see
All that you taste
All you feel.
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
Beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
And everyone you meet
All that you slight
And everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All thats to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.
matter of fact its all dark.)
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Now playing: Pink Floyd - Echoes
via FoxyTunes
domingo, 31 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
"And I knew it was a dream"
Posso, talvez, tentar, agora que já se passou tanto tempo, reconstituir a cinemática daquele movimento contido, os passos medidos, o bater dos saltos no cimento riscado; muito embora tudo exposto é quase certo que esta própria imagem que possuo daquele quadro, firme inscrita em algum ponto vago de minha mente, esteja banhada de tons que não me remetem à estética que tanto admirei, ao ponto de achar como o melhor quadro em movimento que já havia visto em toda a minha vida.
Se me lembro das luzes dos postes? Pudera ser daquelas que atraem garbosas aleluias após as primeiras chuvas de verão: suas pequenas asas se soltando após o impacto com a lâmpada quente; o etéreo vapor que surge no momento do sublimar de suas pequenas antenas; enfim, a queda solitária destes Ícaros tão substanciais e tão ignorados por nós.
Não creio. Pela imagem que teima em trepidar quando fecho meus olhos à noite, acho que eram luzes brancas: inertes, profiláticas, sanitárias. Mais que isso: luzes que, num jogo de esconde e surge, delimitavam muito bem o passeio na qual ela desfilava.
Foi poucos dias antes da morte de meu pai.
Eu já havia a visto algumas vezes pelos corredores. Não havia chamado a minha atenção de pronto, embora fosse linda, de feições delicadas, mas olhar forte. Decididamente, era uma das mais belas de nossas salas.
Ocorre que, à época, eu pensava em outras coisas: coisas que me impediam de todo a despertar. Filosofava em esquinas e beiradas, no mundo lírico que desatava em mim os maiores sentimentos que já sentira, disso eu tinha certeza.
Aliás, minto. Embora te confesse isto, hoje vejo como tudo é apenas romantismo. E é justamente este mesmo romântico que me acossa no agora, quando tento revisitar esta pequena nódoa de passado que navega em meus sonhos.
Aquele dia, em especial, seria como todos os outros. Exceto porque ela estava em minha sala. Donde podia observar o quarto da mulher das cortinas do outro lado da rua: janelas largas donde ela abria e fechava as cortinas de forma incessante, fazendo as vezes de obturador.
Um pouco antes, certo dia, eu conseguira ser alcançado pela mulher das cortinas, enquanto atravessava as ruas para a biblioteca. Ela se apossou do meu lado, me espiando com uns olhos frios. Um calafrio percorreu-me com aquela vista tão cristalina, tão contundente. Permiti um minuto para que ela tentasse esboçar alguma conversa, embora já soubesse, por outros, que ela nunca falava nada.
Só os olhos me olhavam. Olhos que pareciam vivos, apartados dela. Íris flamejantes que buscavam em cada abertura de minha guarda uma brecha para picotar meus pensamentos. Sentia um incômodo tão grande, que só consegui murmurar um “boa tarde” enquanto me escorregava pra longe daqueles laços. A mulher das cortinas permaneceu no mesmo lugar desde então.
Mas como havia dito, estávamos em minha sala: eu, meus chefes, meus subordinados, e ela. A burocracia que me afastava milhas de todos os meus colegas de trabalho permitiu que, entre a interminável soma de números e projeções, eu conseguisse prestar um mínimo de atenção e vislumbrar seu abandono: no modo como ela arrumava os cabelos atrás da orelha, na displicência do balançar os sapatos na ponta dos dedos enquanto escrevia, no olhar triste que se erguia das folhas e papéis para acompanhar o espetáculo que não merecia sua atenção.
Pouco tempo depois, acho que lembro que ela me olhou. Eu tenho absoluta certeza da cara que de espanto que estaria passando, embora possa estar exagerando. Ali, em pleno árido, a maravilha, única, exuberante, tão oculta porque tão evidente. Sei que com esse olhar, devo ter passado uma impressão de bobo, de perdido. Mas eu estava evidentemente desnorteado. Tão desnorteado que perscrutei os edifícios do outro lado, procurando a senhora da janela com cortinas, mas onde deveria estar seu abre e fecha, encontrei as cortinas fechadas.
As horas transcorriam enquanto eu continuava absorto em minha nova descoberta, a minha nova alegria. Ela não me olhou mais, e hoje duvido que tenha olhado da primeira vez: a lembrança nos prega peças.
O que sei é que o tempo voltou a correr quando os participantes levantaram, dando por encerrada a reunião.
Assustado, eu recompus meus papéis e livros, já que pego de surpresa. Murmurei alguns cumprimentos e apertos de mão frios, em conjunto a tapinhas no ombro que simbolizavam a hipocrisia que operava a sala entre os participantes. Enquanto saíamos, alguns ainda conseguiram me retardar, procurando explicações sobre números que eu não havia dito, nem sobre os quais, ditos por outros, eu prestara o mínimo de atenção. E eu perdi momentaneamente de vista aquela que habitaria meus sonhos pouco tempo depois.
Saindo da sala, nos corredores angulosos, alguns colegas me chamavam para farras e putarias: era sexta-feira. Eu pressupus que, pelo tardar da hora, ela tomaria o rumo da condução, para sua casa, ou para qualquer outro lugar que eu desconhecia e torcia para que não existisse. Porque eu torcia para que eu tivesse lido o concreto, a solidão que existia nela, e que esta fosse sua verdade. Solidão que eu trataria de preencher completamente, sim, este era meu desejo.
Desvencilhando dos vários colegas que se apinhavam em meu caminho, atrasando-me inutilmente, dobrei a curva do último corredor que dava para fora do prédio, rumo ao estacionamento e a condução.
E ali ela caminhava.
Os passos contidos, o movimento medido. Tentei ainda me fazer presente: gracejei alto com uma outra que ali passava, pedindo veladamente sua atenção, com o que ela não olhou pra trás. Mas em meu ser, eu sabia que sua cadência era uma espera pera minha chegada. Nos metros daquele pátio que separavam o estacionamento da condução, ainda tive a presença de espírito de tentar acertar o passo. A distância ora diminuía, ora aumentava. Alguns outros passeavam por ali, chaves de carro na mão, almas finadas. Ela nunca olhou para trás, em nenhum momento.
A distância, que se encurtava cada vez mais, trazia-me para a conclusão íntima de chamá-la, desfecho do filme em câmera lenta. Pouco a pouco, elaborava as frases que usaria para conseguir trazê-la ao meu labirinto: mostrar-lhe alguns caminhos e outros desvios, no emaranhado poético que é a vida. Não sei porque, tive a certeza de que se eu falasse qualquer frase, tudo se encaminharia, aos trancos e barrancos que fosse, mas ali seria o início.
E foi com esta cena: ela flutuando à minha frente, em uma noite sem ventos, onde as luzes frias não conseguiam trazer nenhum calor porque todo o brilho do momento estava concentrando em sua silhueta, e na qual eu caprichosamente, passos atrás, partilhava com o universo a total admiração pelo momento sublime, que aconteceu.
Estanquei. Deixei-a ir.
Se me perguntasses por que, juro, acho que a mentira que contei a mim é que não era um bom momento. Haveria outras chances. A vida sendo tão imensa, não poderia se esgotar naquela perseguição lenta, naquele jogo onde ninguém ganharia nada, só eu teria a perder, mormente eu era o único a jogar. A vida deveria ser maior, mais brilhante que ela, mais movimentada, mais acelerada...
Na verdade, o que me fez acovardar no instante exato foi a imagem que saltou à mente, imagem esta que obnubilou a estética da perfeição que eu estava seguindo. Sem nenhum motivo aparente, fui acometido por uma paralisia tremenda após me lembrar da senhora e suas cortinas.
Seu abrir e fechar incessante; seu obturador perscrutando minha vida inteira da janela ampla de seu quarto; dos olhos que podiam me ler completamente e me julgar por qualquer falha, mínima que seja. A senhora que conseguiu extinguir meu movimento. E eu vendo minha atriz esvaindo-se nas brumas que surgiram lentamente na noite, trilhando seu caminho que eu ainda achava que um dia poderia conhecer.
O futuro foi que não me ocorreu nada disso.
No domingo, soube que meu pai falecera. Viajei à minha terra para seu funeral e para enterrá-lo. Quando voltei, uma semana depois, ela havia partido de nossas salas. Acho que alçara outros sonhos.
Sentia-me tão minúsculo àqueles tempos que nunca perguntei nada a ninguém sobre ela: quem era, seu nome, de onde veio ou para onde foi, qualquer contato.
Quando dei por mim, ninguém mais se lembrava dela em suas vidas.
Isso foi há muito tempo... é bem provável que seja tudo parte do mesmo sonho, que persigo há tanto tempo e, imerso, faça parte; navego por ele, luto por ele, sou constantemente trazido à praia após inúmeros deslizes. Vendo com olhos distantes, não acho que tenha perdido tanto ao extirpar mais esta escolha de minha vida.
O que sobrou? Talvez um quê de como pudesse ter sido.
Mas já não me autorizo a sonhar mais que isso.
"I was flying through space
and I knew it was a dream
cause I never flew before
and the stars were going past me
and the planets were going past me
and I knew it was a dream
cause I never flew before
I went further and further away until I saw this tiny blue planet
and something made me want to go there
and I thought it was a dream
cause I never flew before
and I went down to this little planet..."
Labuta
[13:37]
a bla nsis cm a so nsid a ajdsjks anan
entaosnd ecomaind mediano com rigoso am
sistemacio uijniso laudo periculsoid de
...
[14:52]
Teste de arrumedos e de imiscuir
Entretanto, esclarecendo que a principal razão para a paisagem é
A! o cholumbrático.
[15:12]
Que palavra interessante...
[15:17]
Luminosamente, uma onda se arremessa ao seu destino.
[15:21]
Tenho uma pequena janela de notas
onde junto letras em palavras quase;
quase sempre diferentes
dos significados quase almejados.
Por trás, uma outra
e outra...
e outra...
se expandindo ao infinito.
[15:25]
Meu amor havia dito:
Tome cuidado com as más companhias.
Esqueceu-se, por um momento,
quem eu havia sido; sua má companhia.
[15:37]
Novamente, digito palavras vazias e letras desconexas
Pois outra pessoa passa e inspeciona,
o olhar, descuidado ou vil
perscruta o espaço onde me situo.
[15:40]
"A ciência me protegia daquilo que não queria saber."
[15:48]
O ser humano pode ser tão imbecil ao ponto de imitar um comportamento de outra pessoa. Ilude-se ao crer que este comportamento é sinônimo de segurança.
Resume-se a uma expressão de violência e força.
[15:53]
Mas afinal, é bem provável que para ele o necessário para viver seja justamente isso: agarrar-se a esta ilusão no seu enfrentamento diário do mundo da vida.
[15:54]
Tap tap tap... tip top tipo...
typo...
Não seria tudo um grande erro de digitação?
Não... não há projeto...
[16:14]
Prometo que é a ultima vez que finjo... hoje.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Um dia...
Talvez eu consiga, um dia, revelar quão importante são certas coisas na minha vida.
Que só existem em sua plenitude.
Plenitude ilusória, diga-se de passagem.
Porque, no ínfimo, não há completude.
Se eu conseguir, eu me sentirei muito abençoado...
Porque hoje, eu ....
Obrigado LeRoi...
"It's always easier to leave, than to be left..."

Before I'm old
Oh, brother of mine
Please don't forget me if I go"
LeRoi Moore, 1961-2008
Now playing: Dave Matthews Band - #41
Live Trax n. 10, at Lisbon Portugal
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domingo, 3 de agosto de 2008
Se a foto fizesse o político...
Now playing: Dave Matthews Band - When The World Ends
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quarta-feira, 9 de julho de 2008
The unstable table and the infamous fable

Os que me conhecem percebem que há muito adoto uma postura agnóstica, tendendo ao ateísmo puro. Fruto, em grande parte, de minha formação acadêmica. Dificilmente eu poderia ter saído ileso daquele front, ainda mais imerso, com tanto prazer, em teorias várias, livros e pesquisas tão ímpares, tão eloquentes, tão ... elegantes.
Ainda mais se tratando da Biologia. Minha ciência é um meio termo entre ciências exatas e inexatas. Não possuímos, na maior parte das vezes, as ferramentas que podem nos dar o ponto crítico da prova em que apoiar nossas elaborações, ao contrário da física e a matemática. Mesmo assim, um dos grandes pensadores da humanidade emergiu de nossas fileiras. Darwin, que juntamente com Nietzsche, Marx e Freud, conseguiu desestruturar grande parte da história do pensamento do homem, atingindo de forma contundente suas bases (que foi tratado brilhantemente pelo meu amigo João Franco em um ótimo ensaio, intitulado "O Direito e os Golpes sobre o Narcisismo da Humanidade).
Peço desculpas pelo "meio de campo"... Na verdade, comecei a me perder com muita mais facilidade nos últimos anos. E é justamente sobre isso que eu tento escrever agora. Dentre as várias coisas importantes que me ocorrem, duas me têm tirado do prumo.
A primeira é que, talvez pela primeira vez na vida, eu estou com medo. Um medo grande do futuro. Medo por estar no controle da minha vida totalmente e não poder culpar mais a ninguém pelos "sucessos" e pelos fracassos (Ainda mais porque não defini o que é "sucesso" ainda). Medo porque não me sobra tempo para fazer o que gosto, (e sempre tive muito tempo sobrando) porque me arrisco em uma profissão que nunca pensei que poderia ser (e pra falar a verdade, sempre tripudiei). Mas não só isso.
Porque tive um sonho absurdo esses dias.
Eu sonhei que eu estava parado, talvez em um quarto escuro (meus sonhos são muito caóticos, mas me lembro bastante deles. Do que sobra, costuro...), e estava em pé. Olhava pra uma linha prata em uma tela escura , e essa linha ia se expandindo em várias direções, em vários ramos, uns mais grossos, outros mais delgados. Era uma grande sebe espinhosa que ia se expandindo infinitamente, pra onde ela pudesse preencher no campo neutro e escuro que era seu fundo.
E ali, eu reconheci um ramo destacado, que chamou a minha atenção... era uma linha bem delineada, que seguia vários horizontes, trilhava vários caminhos, contorcia-se e espiralava-se. Alargava... afinava... Até que parava... E depois de algum tempo, enquanto toda a trepadeira se diversificara o bastante, ela retornava o seu crescimento.
Confesso que não cheguei ao final do sonho, pois no meio dele eu reconheci que aquele fio destacado era a minha vida. Acordei com essa imagem na minha cabeça: minha vida e toda a vida do mundo. E quando me dei conta dessa alusão, só consigo me lembrar do tamanho inesgotável da trepadeira em comparação ao pequeno ramo que eu era.
É claro que é ridículo pensar assim ... É puro egocentrismo e narcisismo, querer abarcar todo o mundo, tentar compreender a totalidade da vida, sorver absolutamente o sentimento do mundo.
Mas isso me amedronta. Me amedronta porque não tenho projeto de mim perfeito e acabado, em que eu possa apoiar-me para lutar doravante. Ainda mais quando não tem como acreditar mais em um ordenador, em um provedor, algo superior que possa, se não escrever seu caminho, pelo menos auxiliar em algum momento mais difícil. Por muito tempo eu acreditei nisso, fui criado assim. Hoje, não é mais questão de pouca fé. A fé, esse novelo simbólico que trouxe a maioria das desgraças do mundo, junto com a ganância, não faz parte mais do meu vernáculo.
Eu consegui até hoje me desvencilhar de muitos problemas de minha vida com muita sorte. Os que não consegui e me arrebentaram, eu levo guardado muito fundo, mas não o bastante para que não consigam me atormentar em intervalos muito próximos de tempo.
Essa é a minha fábula infame.
O segundo dos meus tormentos últimos é como acreditar em qualquer tipo de ideal superior? Como desvencilhar dessa criação, dessa forma, dessa lama que sou eu e de onde eu emergi? Como esperar racionalidade onde a emoção e a paixão descontroladas clamam pelos fundamentos de sua infância?
Acima de tudo pra mim, o que antes poderia ainda ter de plano e apoiável, instavelmente desmoronou, como aquele grande bastião de pedra, martelado incessantemente pelos canhões de 24 polegadas de sua nobre majestade, foi reduzido a pó. Assim, mais uma das incontáveis chacinas da humanidade foi feita.
Refiro-me, antes de mais uma divagação, ao fato de que eu só pude conhecer o gênio do qual furto as palavras deste título e também sua imagem após sua morte. Só conheci Esbjörn Svensson depois que ele despediu-se no oceano. Depois de ler a notícia, corri atrás de seus albuns. Nem pude pagar por eles, pois alem de serem difíceis de se achar, era mais fácil procurar na internet.
Não pude prestar nenhuma homenagem a ele quando vivo. Não pude falar seu nome em bom tom em uma conversa de amigos antes que ele se extinguisse. Isso me entristece muito. E somente hoje a ficha realmente caiu.
E caiu de forma avassaladora. Pois hoje percebo que minha fábula infame está intimamente ligada à instabilidade da mesa em que jogo. E relembrando meu sonho, sinto medo e grande pesar por tudo que eu deixo de escapar e que seria maravilhoso pra minha vida.
E sei que não há como retirar estas características, estes adjetivos, sem perder uma grande essência do que fui e do que sou.
Portanto, se de alguma forma eu pudesse consertar algum erro plenamente, eu gostaria de iniciar pedindo perdão e prestando alguma homenagem a Esbjörn Svensson, que morreu aos 44 anos, abraçado pelo mar.
(e continuo a me perguntar: até quando sentirei saudade de tudo que ainda não vi?)
Now playing: E.S.T. - Ballad For The Unborn
via FoxyTunes