domingo, 15 de fevereiro de 2009

Futebol

Futebol é bão né? Ponto.

Agora, 30 minutos do clássico paulista Corinthians e São Paulo dá vontade de desligar a TV.

Jogo truncado, pesado, bruto, sem uma jogada boa, só porrada. E quantas faltas? E São Paulo com time misto, Corinthians sem elenco. Só marcação e porrada. Ah, e chuveirinho!

O time do São Paulo marca bem, toca a bola bem, e dá-le chuveirinho! E a zaga não passa agulha. Placares apertados são constante.

Futebol paulista? Os únicos que jogam futebol ali pra honrar nosso estilo vieram do Rio ou outros estados. Lenny do Palmeiras e esse lateral esquerdo do São Paulo, Júnior César, que tá jogando bem.

Clássico carioca não. Em sua maioria. Sobrando problemas, os clássicos cariocas sempre são gostosos de se ver. Lembro me de ver muitos clássicos no domingo lá em Uruaçu, já que a antena parabólica passava a Globo do Rio. Não é a toa que tem-se que o Carioca é o campeonato mais 'charmoso' do país.

E o imbecil do narrador fica falando " e que clássico "... Francamente.

Aí! To falando, Um a zero pro Botafogo em cima do Flamerda!

E antes que venham ser bairristas apaixonados, leiam com calma o que escrevi!

Tentarei atualizar aqui, porque esse domingão tava bom era pra ter ido ao Serra. Mas o Vila Nova não anda dando muita alegria...

38 minutos: E o Vascão enfia um no Madureira! E o Túlio é expulso (olha que coisa. O jogo já teve muito mais porrada pra expulsão do que esse tapinha. Mas a estultice típica de lance do carioca, mais ou menos o que o Bill do Vasco fazia)

47 minutos: Todos os outros clássicos tem gol. Menos esse. E olha como esse timeco do flumerda é sacana, além de comprarem resultados na justiça contra o Vasquinho (porque enfiaram dinheiro horrores naquele time e o cocô continua afundando), tão jogando em São Janu!!! Honra é coisa perdida estes tempos.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Again and again

Meus amigos, já falei do nosso amigo Prayve e seu blog (que também se encontra ali do lado direito com a data da ultima atualização, assim como os de meus amigos que leio sempre). Mas não consigo não deixar de postar um trecho de sua última mensagem:

In this day where it has become harder and harder to turn to present music for spirituality, where an artist's achievement is measured by the appeal of his recordings to mainstream audiences and where the standard channels just don't provide the right material to quench my thirst of music; digging into the treasures of the past seems to me like the best way to escape from the surrounding musical boredom and to feed my soul the nutrients it begs for.

Conseguiu tirar daqui de dentro algo que, já há algum tempo, venho remoendo com o passado.

Se ninguem conhece o que é o poder da boa música do passado, só precisa visitar o paraíso para nós músicos: ali em Aparecida de Goiania, na casa do Thomas =)

Portanto: baixem, now, as compilações do Prayve's.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Ontem

Ontem, como é costume, centenas de estudantes foram ao Parque Vaca Brava comemorar o resultado do vestibular da UFG.

É uma festa grande, bagunçada, algo descompensada, onde os calouros tomam trote dos veteranos, quase se afogam nas águas do lago, se emporcalham, bebem muito e apanham, quase na mesma medida. Meninos e meninas que mal saíram das fraldas após meses, quando não anos, de muito sofrimento, expectativa, ansiedade, privação e esforço, esperam se encontrar, enfim, com o êxtase de sua aprovação. Querem comemorar e querem se libertar de tudo o que os oprimiu, angustiou e machucou durante esta jornada.

Há muito tempo também que setores da sociedade reclamam desta farra, da sujeira e da anarquia que é instaurada, a violência com que se praticam os trotes, a bebedeira descontrolada, o tumulto no trânsito, enfim: tudo que foge ao controle, que era reprimido e se libera; o oculto agora revelado neste único dia no ano. Pois ontem não foi diferente. A mesma alegria confusa se espraiou ao lado do parque. A mesma violência em alguns trotes, algo até mais cruéis; a mesma progressão percebida em um calouro que nunca havia bebido antes, ao entornar forçosamente destilado (seja por medo de ser taxado como covarde frente aos teus, seja por arrogância e audácia): primeiro a euforia e a alegria, sendo sucedidas por vertigem, cambaleios, vômitos, e em alguns casos, desmaios.

Deveria existir limites a tudo isto? Não. Não creio que devemos limitar esta festa, não devemos doutrinar a alegria, impor barreiras ao descontrole que, em sua maioria, é saudável. Mas creio que deve haver, acima de tudo, responsabilidade e consciência de que há conseqüências em tudo que fazemos, ou aceitamos que outros façam conosco.

É nesta faixa da realidade que o calouro deve situar-se. O que ele encontra ali é vida em manifestação crua; é o que ele encontrará pela frente em sua existência. A violência dos trotes nunca se resumiu ao trote. O apelo do álcool da celebração perfeita nunca se situou somente naquele dia, não é caracter indelével dos estudantes. A perversidade de certas práticas que manifestam-se naquele dia não é singular. Tapas, socos, pontapés, puxar cabelos, arrastar pelo chão, enfiar a bota suja de lama na cara do outro, pisar em suas costas: estas manifestações não são característica intrínseca daqueles que ali festejam.

Todas estas tendências e personalidades que vemos aflorar naquele dia são reflexos de uma sociedade cínica, sádica e hipócrita. A violência está dentro dos lares e escolas desde muito cedo, pelas pessoas ou pela televisão e o noticiário, está no trato com os outros, no trânsito; o álcool e as drogas já se perdem no tempo como um dos grandes pilares que se sustentam a vida cotidiana, seja para celebrá-la, seja para fugir dela (e esta nuança é tênue). O que seria o álcool e o fumo se não fosse a propaganda?

Hipocrisia e vilania é acusar os jovens de serem os únicos responsáveis por tudo e não assumir a parte que, há muito, sabemos que nos pertence.

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A agressão cobarde de um policial militar ao estudante W. G., que desferiu um soco brutal na boca do menino, já algemado, já dominado, circundado por 8 policiais militares e filmada é uma das cenas que destoam a celebração de ontem e reflete de forma cristalina a confusão que nos metemos nessa altura do campeonato.

Parto das imagens apenas. Não quero esperar as versões que serão liberadas, discutidas, confrontadas, para, ao final, tudo restar-se por baixo do tapete:, sem nenhuma mudança promissora para a nossa sociedade. Tudo pode quedar-se leviano, mas é um risco que assumo.

Curiosamente calouro de direito, assumo que W.G. seja menor de idade. Porque somente por este fato poderia existir qualquer embasamento legal para que os policiais ordenassem que ele entregasse a garrafa de vodka. É inconcebível que ele tenha sido algemado por se recusar a entregar uma garrafa de vodka em uma celebração de rua. Sabendo ser menor, naquela situação, a PM deveria tentar todas as alternativas antes e em último caso conduzi-lo ao juizado da infância e adolescência, sem violência (diga-se, aparente).

Resta acreditar que o jovem, talvez arrogante e audaz como os calouros de direito geralmente o são, tenha desacatado o policial, não apenas resistindo a uma ordem de retirada do local ou entrega da garrafa, mas proferindo impropérios vários aos policiais. Mas nem isso justifica, de maneira alguma, a atitude do policial. Porque todos sabemos como funciona o desacato: primeira e última arma do arsenal de barbaridades, postas de pleno direito, ao policial truculento em seu exercício ignóbil. O crime de 'desacato à autoridade policial' é uma herança maldita do período ditatorial em nosso país, e deveria ter sido varrido, juntamente com quaisquer de suas sombras, de nosso ordenamento.

O que me leva a um terceiro ponto: em que planeta aquele jovem viveu todos estes anos? Ele não sabe como a realidade funciona? O que é a polícia? Como os pais nunca, por menor que seja o caso, não sentaram com o moleque e contaram algumas destas histórias de medo e abuso policial? Porque todos possuímos histórias de abuso policial, de abordagem violenta, de humilhação pública. No mínimo, mesmo estando totalmente correto, o jovem deveria ter acatado a ordem e saído. Não o fez, e a consequência real de seus atos assomou: aqueles não eram os policiais montados em bicicletas do parque, eram tropas de choque do estado. Porque não há como argumentar com a polícia (ela é surda e burra). Não há como se defender da polícia (ela é açoite e ordem). Qualquer outra atitude que não a de submissão total e incondicional tem como conseqüência a dor.

A polícia militar é instituição de horror e repressão, antes designada para as periferias e portanto oculta aos olhos da burguesia. Agora com este levante de autoritarismo e endurecimento em que passamos, renovação de um fascismo latente há muito tempo, ela trouxe, para o seio da classe mais favorecida e até então protegida todas as penúrias, rompantes, ilegalidades e abusos que se acostumou a cometer e infligir, quando invisível aos olhos da imprensa e políticos, nos menos favorecidos. É provável que o caso ganhe alguma repercussão midiática, posto que filmado e acontecido em um dos bastiões da pretensa segurança social, e alguma discussão sobre esta violência policial em particular. Meu palpite: não resultará em nada. Mudanças mais profundas devem ser feitas.

A atitude absurda da polícia e, talvez, a audácia de um calouro de direito juntas deitaram o caldo. O que resta é esperar que este episódio produza alguma reflexão, tanto na turma que adentra na faculdade de direito esse ano, quanto no jovem que sofreu essa agressão covarde: espero que ele tenha essa experiência em seu âmago e lute contra as injustiças e ilegalidades deste sistema; que não a aceite como uma vergonha, ou como um erro, e esqueça em seus porões da memória. Porque fatalmente os fantasmas retornam e assombram.

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Meu pai é um exímio contador de histórias.

Nascido no Rio de Janeiro, sou fascinado por tudo que ele viveu. Me contou apenas uma vez esta história, e sempre me lembro dela (embora as tinturas estejam muito misturadas). Ele retornava para casa lá no Morro do Tuiuti, na Mangueira. Em São Cristóvão, perto do Batalhão da PM, antes das ladeiras do morro, uma blitz da PM. Voltava de um futebol no sábado. Foi parado, desceu do fusca, e o baculejo de praxe. Meu pai, sem mais nem menos, antes de ser liberado, leva uma bofetada na cara de um policial que estava ao lado, nenhum motivo.

Aquela bofetada pesada, que te derruba no chão. Terminada a sessão de humilhação, a ele é permitido se recolher ao carro, e antes de sair, o policial avisa:

"Isto foi por você não ter dito sim senhor nenhuma vez."

Meu pai, liga o fusca, engata a primeira:

"Pode ir", diz o policial

"Sim senhor", retruca meu pai

Move-se o fusca um pouco mas não se dá por vencido e grita ao milico:

"Ah seu filha da puta, corno, viado, tua mãe tá na zona seu broxa!"

E acelera, disparando para casa.


Ps: pequenas modificações.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Êta Urucubaca

I) Uma mesa de som queimada
II) Um juzo perdido (ps: já foi encontrado!)
III) Falta de energia elétrica
IV) Aparelho de DVD dando pau
V) Cadê meus DVD's e CD's, cacete?

É. Sou um desastre em movimento!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Pushing our limits




Filado do Catarro

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Idelber Avelar e seu glossário

Ultimamente tenho lido muito sobre política, em especial mundial. As últimas eleições para prefeito aqui em Goiás não foram nada acirradas, simplesmente passaram, em especial Goiânia em que houve a reeleição de Iris Dinossauro Resende. Mesmo assim, acompanhei algo distante os pormenores, me indignei a uma câmera de tv para descobrir que era propaganda do outro candidato (mais impróprio que o próprio Iris), até acompanhei alguns debates, todos muito fracos.

Mas a água passou por baixo da ponte tranquilamente, ratificando a escolha do povo, vox populi vox dei: um 'falo' gigantesco entrincheirado num dos redutos burgueses (onde moro) de minha cidade ao cabo de 25 árvores decênias cortadas para dar mais visibilidade ao 'monumento', isso pra falar no mínimo.

Lentamente começo a me situar, tentando ser menos alienado, tanto no meu tempo histórico, quanto na minha cidade, na minha família, na minha mente Talvez agora esteja saindo, muito vagarosamente, de uma verdadeira 'segunda adolescência' em meus 20 a 25 anos, já que eu fui um revoltado rotulado algo conhecido em minha pequena cidade natal. Talvez também porque agora sim entendo o quão é difícil viver (mas estas conversas ficam para outros dias).

A política mundial, pelo contrário, pareceu-me bastante acirrada. Tenho uma esperança em Obama, embora ache que meu posicionamento ficou meio ambíguo ao comentar sua frase do discurso, mas eu tenho esperança (mas um tanto quanto cético; que dualidade!). Meu projeto político é me preparar para as eleições daqui a quase dois anos; nada de candidatura, claro: será meu voto mais consciente e mais importante de minha vida, talvez nosso voto mais importante dos nossos últimos 20 anos.

Para isso, não basta somente, creio, acompanhar os bastidores da política nacional (o reflexo da dupla vitória do pmdb na câmara e no senado p. ex.). Como o mundo é cada vez mais interligado, sensivelmente alteram-se as conclusões quando levamos em conta mais variáveis em nosso pensar. E será uma dura decisão, podem ter certeza disso.

Mundo e Brasil. 2 anos. Só possuímos esta realidade, esta vida. Que escolhas faremos?

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Idelber Avelar é um professor de literatura que se divide entre EUA e Brasil, e possui certamente um dos blogs de maior repercussão política em nosso país. Neste recente genocídio palestino perpetrado por Israel, seu brado foi um, dentre muitos, que acusou o Mal que repousa na política externa israelense e em todos os que possuem interesses afins.

Decerto ele compilou um pequeno glossário onde expande e analisa as definições utilizadas costumeiramente pela parte da mídia inescrupulosa e desidiosa. Concebo como de suma importância para entender o que se passa no mundo, e como os reflexos de uma guerra em outra parte do planeta atingem-nos em nossas cidades, com nossos governantes, desculpem o trocadilho, pra lá de Marrakesh de incompetentes.

Os textos valem, principalmente, pelos links que ele apresentam, as citações, as referências, onde cada um nos leva a um universo que, pelo menos pra mim, era um tanto quanto desconhecido. Se houver um pouco de disponibilidade de tempo, a exploração será com certeza recompensada.

Glossário Macabro da Ocupação 1: "Conflito"

Excerto: "Ao definir “conflito”, Houaiss usa os sinônimos “choque” e “enfrentamento”. Certamente, podem existir conflitos entre fortes e fracos. A simetria perfeita de forças não é um requisito para a aplicabilidade do termo. Mas se você vir um garoto de 15 anos sendo espancado por cinco brutamontes, você dificilmente usará a palavra “conflito” para descrever o que acontece. "

Glossário Macabro da Ocupação 2: "equilíbrio", "ponderação", "ver os dois lados"

Excerto: "Qualquer bom profissional da área de Letras, com um mínimo de formação em retórica, poderá lhe explicar, caro leitor, como seria relativamente simples escrever um panfleto racista que parecesse “ponderado”, uma monstruosidade pró-Apartheid que soasse “equilibrada”, uma justificativa do colonialismo mais bárbaro que parecesse estar “vendo os dois lados”. Basta ir fazendo um pingue-pongue pretensamente neutro entre verdugo e vítima, e você engana os incautos.
"


Glossário Macabro da Ocupação 3: "Terrorista"

Excerto: "1. A palavra “terror” entra na língua como designação de um ato político justo ali no momento de fundação da democracia moderna. Houaiss, “terror”, acepção 6: nome por que se designa o período da Revolução Francesa compreendido entre 31 de maio de 1793 (queda dos girondinos) e 27 de julho de 1794 (queda de Robespierre). Este é o primeiro tapa que os fatos dão na cara do argumento que implícita ou explicitamente associa o “terrorismo” aos árabes: o “terror” não é o oposto da democracia, não é antônimo de “liberalismo”, não é o contrário nem o antagonista do Ocidente. O terror nasce ali, juntinho com a democracia."

Glossário Macabro da Ocupação 4: "“A oferta generosa de Camp David” ou "a oportunidade perdida por Arafat"

Excerto: "Qual era, pois, a tal “oferta” (que, sabemos, jamais foi tal) de Camp David? Leia o jornalismo “ponderado” e ele lhe dirá que Arafat rejeitou uma oferta de “96% da Cisjordânia, toda Gaza e Jerusalém Oriental” para um estado palestino, de forma que parece que meros 4% da Cisjordânia separavam a oferta israelense da lei internacional que exige retorno de Israel às fronteiras de 1967. A verdade, evidentemente, está a quilômetros de distância disso. "

Espero ter atiçado vossa curiosidade. Idelber deve ser lido costumeiramente. A imagem que ilustra o post é de autoria de Latuff, cujo mote Idelber nos traz:

"copyleft is the way e a informação deve ser livre e que sobretudo nenhuma restrição se aplica às imagens que documentam a expulsão e posterior ocupação militar de que foi e é objeto o povo palestino, pois elas configuram testemunho de crime lesa-humanidade."

Doutores do Pessimiso - Marcelo Coelho

Peço licença e publico a coluna do sociólogo Marcelo Coelho, que escreve para a Ilustrada da Folha. Coelho é um dos alvos prediletos dos pitbulls da direita reacionária brasileira (reinaldo azevedo, hilário como sempre, tem uma rixa histórica com ele). O blog do M Coelho é um dos que mais acesso. Este pequeno texto encampa, de forma maravilhosa, muitos de meus pensamentos , receios e esperanças, que brotaram em profusão quando vim para Goiânia (à época, quase prestei História); ficaram adormecidos por algum tempo; agora, assomam com energia em minha vida cotidiana. (os grifos são meus)

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Os Doutores do Pessimismo

Será chamado de ingênuo aquele que quiser algo melhor do que o mundo em que vive

NÃO É PRECISO ser um grande gênio para constatar que vivemos num mundo bárbaro.

Que o ser humano é capaz das maiores atrocidades. Que a vida é feita de competição, inveja, egoísmo e crueldade.

Ninguém precisa ter vivido num campo de prisioneiros na Sibéria nem ter sido moleque de rua no Capão Redondo para saber disso. Mas virou moda entre muitos intelectuais e jornalistas anunciar uma espécie de "visão trágica" do mundo, como se se tratasse da mais surpreendente novidade.

Com certeza, há nisso uma reação saudável contra o excesso de otimismo. Durante o século 20, grande parte da esquerda não quis ver as barbaridades cometidas por Stálin e Mao porque, em última instância, "tudo iria dar certo". Belas esperanças tornaram-se pretexto para atos de horror. Nada mais correto do que denunciar o horror.

O que me parece estranho é que, mais do que denunciar o horror, esses pensadores trágicos e jornalistas sombrios gostam de destruir as esperanças.

O reconhecimento do Mal, a crítica à violência da esquerda, a percepção de que ninguém é "bonzinho" e de que a realidade é uma coisa dura e feia vão se transformando em algo próximo do fascínio.

E, com diferentes níveis de elaboração e de cortesia pessoal, esses autores tendem a fazer do fascínio uma estratégia de choque.

Quanto mais chocarem o pensamento corrente (que considera ruim bombardear crianças e bom defender a Amazônia, por exemplo) mais ganharão em originalidade, leitura e cartas de protesto. Parece existir uma competição nas páginas dos jornais e na internet para ver quem conseguirá ser o mais "durão", o mais "realista", o mais desencantado.

Há diferenças notáveis de atitude e de opinião entre pessoas como Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho, Demétrio Magnolli ou Reinaldo Azevedo. Mas é um time e tanto, e minha experiência pessoal com a violência do ser humano, adquirida nos pátios de recreio do ginásio, é suficiente para não querer polemizar com alguns deles.

Não vou, portanto, individualizar as minhas críticas. Mas, de modo geral, os "durões" do mundo opinativo parecem correr um mesmo risco. A crítica às utopias do século 20 faz sentido, com certeza, mas termina funcionando para justificar muitos erros e abusos do presente -desde que sejam suficientemente "não-utópicos". Será chamado de ingênuo ou nostálgico todo aquele que quiser algo melhor do que o mundo em que se vive.

Nem todos os "durões" de que falo abdicam desse "melhorismo". Mas ai de quem tiver ideias um pouquinho mais à esquerda do que as deles -o que não é difícil.

Às vezes, a crítica ao stalinismo se compraz em tornar stalinista quem se afaste um milímetro das opiniões de quem a professa. Outras vezes, a crítica às velhas utopias tende a se transformar numa glorificação da realidade.

Curiosamente, então, aquilo que deveria ser ponto de partida se torna ponto de chegada. O mundo é horrível e a realidade é cruel. É um ingênuo quem quiser mudar essa situação. O horror e a crueldade fazem parte da paisagem. Melhor assim, quem sabe: nós, pelo menos, tiramos disso a satisfação de não sermos ingênuos.

Você está esperançoso com a vitória de Obama? Ouço um risinho: que otário. Mas fico feliz de nunca ter sido otário a respeito de Bush. Você se choca com as crianças mortas em Gaza? Ouço um risinho: os militares israelenses entendem mais do problema que você.

Você quer que se preservem as reservas indígenas da Amazônia? Mais um risinho: os militares brasileiros entendem mais do problema que você, que pensa ser bonzinho mas é tão malvado como todos nós.

Pois o ser humano é mau, desgraçado e infeliz, desde que foi expulso do Paraíso. Você não sabe disso?

O que sei é algumas pessoas foram expulsas do Paraíso para morar numa mansão em Beverly Hills, e outras para morar em Darfur. Todo o poder aos poderosos, toda realidade aos realistas, e todas as bombas para quem ficar no meio do caminho. Eis o resumo da atitude dos "durões". Mas quem precisa de articulistas num mundo desses? Os militares dão conta do recado.

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Now playing: Miles Davis - Blue In Green
via FoxyTunes

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

logoff (desconectado)

=)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Música boa para degustar

Nas andanças pela net, encontrei hoje uma página onde um músico francês disponibiliza compilações que ele faz com raridades que ele possui em LP.


O interessante é que, com o gosto musical bastante variado indo do jazz ao funk, a música brasileira é muito bem representada e ele particularmente gosta. Uma das ótimas compilações que ele disponibilizou é a chamada Funky Brazil Electro, que tem entre belezuras musicais: Gil, Novos Baianos, Tim Maia, Milton e Lô Borges, Djavan, Carlos Dafé (que tive a honra de ver no Noise do ano passado, com o Coletivo Instituto) entre outros muitos. Cada linha de baixo mais swingada e quebrada que outra.

Impressionante como tantas pessoas conseguem, tranquilamente, se ater ao seu gosto musical formado, sua segurança, impedindo a alma de beber de outras fontes (isto quando não se percebe um disfarçado preconceito com a música tupiniquim, espírito pequeno de Coloniado que vinga até hoje...)

Ps: a foto foi roubada do post do Prayve
cuja página é esta aqui:

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Now playing: Tim Maia - Guiné Bissau, Moçambique e Angola Racional
via FoxyTunes

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Strike! (ou como botar as garras de fora)





"Nós não vamos pedir desculpas por nosso estilo de vida nem vamos hesitar em defendê-lo."


Barack Hussein Obama II

em seu discurso de posse como 44º presidente dos EUA.



Ps: mas que oratória! E que pessoa.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

As verdades por trás das mentiras


Temos de ser capazes de ver a verdade por trás das mentiras


Norman Finkelstein, Counterpunch, 13/1/2009
http://www.counterpunch.org/neumann01132009.html

Norman Finkelstein é autor de cinco livros, entre os quais Image and Reality of the Israel-Palestine Conflict, Beyond Chutzpah and The Holocaust Industry, traduzidos para mais de 40 idiomas. Esse artigo está publicado também em sua página internet, em www.NormanFinkelstein.com

Os registros existem e são muito claros. Qualquer pessoa encontra na internet, na página do governo de Israel e, também, na página do ministério de Negócios Exteriores de Israel. Israel desrespeitou o cessar-fogo, invadiu Gaza e matou seis ou sete (há controvérsia quanto ao número de assassinados, não quanto ao crime de assassinato) militantes palestinenses, dia 4/11. Depois, o Hamás respondeu ou, como se lê nas páginas do governo de Israel "o Hamás retaliou contra Israel e lançou mísseis."

Quanto aos motivos, os documentos oficiais também são claros. O jornal Haaretz já informou que Barak, ministro da Defesa de Israel, começou a planejar o massacre de Gaza muito antes, até, de haver acordo de cessar-fogo. De fato, conforme o Haaretz de ontem, a chacina de Gaza começou a ser planejada em março.

Quanto às principais razões do massacre, acho, há duas. Número um: restaurar o que Israel chama de "capacidade de contenção do exército" e que, em linguagem de leigo, significa a capacidade de Israel para semear pânico e morte em toda a região e submetê-la mediante a pressão das armas, da chantagem, do medo. Depois de ter sido derrotado no Líbano em julho de 2006, o exército de Israel entendeu que seria importante comunicar ao mundo que Israel ainda é capaz de assassinar, matar, mutilar e aterrorizar quem se atreva a desafiar seu poder pressuposto absoluto, acima de qualquer lei.

A segunda razão pela qual Israel atacou Gaza é culpa do Hamás: o Hamás começou a dar sinais muito claros de que deseja construir um novo acordo diplomático a respeito das fronteiras demarcadas desde junho de 1967 e jamais respeitadas por Israel.

Em outras palavras, o Hamás sinalizou que está interessado em fazer respeitar exatamente os mesmos termos e conceitos que toda a comunidade internacional respeita e que, em vez de resolver os problemas a canhão e com campanhas de mentiras por jornais e televisão, estaria interessado em construir um acordo diplomático.

Aconteceu aí o que Israel poderia designar como "uma ameaçadora ofensiva de paz chefiada pelos palestinenses". Imediatamente, para destroçar a ofensiva de paz, o governo e o exército de Israel desencadearam campanha furiosa para destroçar o Hamás.

A revista Vanity Fair publicou, em abril de 2008, em artigo assinado por David Rose, baseado, por sua vez em documentos internos dos EUA, que os EUA estavam em contato estreito com a Autoridade Palestinense e o governo de Israel, organizando um golpe para derrubar o governo eleito do Hamás, e que o Hamás conseguira abortar o golpe. Isso não é objeto de discussão: esse fato é estabelecido, documentado e há provas.

A questão passou a ser, então, impedir o Hamás de governar, e ninguém governa sob bloqueio absoluto, bloqueio que desmantelou toda a atividade econômica em Gaza. Ah! Vale lembrar: o bloqueio começou antes de o Hamás chegar ao poder (eleito!). O bloqueio nada tem ou jamais teve a ver com o Hamás. Quanto ao bloqueio, os EUA despacharam gente para lá, James Wolfensohn especificamente, para tentar pôr fim ao bloqueio, depois de Israel ter invadido Gaza.

O xis da questão é que Israel não quer que Gaza progrida, sequer quer que viva, e Israel não quer ver nenhum conflito encaminhado por vias diplomáticas, que tanto os líderes do Hamás em Damasco, quanto os líderes do Hamás em Gaza têm repetidas vezes declarado que buscam, sempre com vistas a resolver o conflito relacionado às fronteiras demarcadas em 1967, fronteiras que Israel jamais respeitou. Tudo, até aí, são fatos registrados e comprovados. Não há qualquer ambigüidade: tudo é bem claro.

Todos os anos, a Assembleia da ONU vota uma resolução intitulada "Solução pacífica para a questão da Palestina". E todos os anos o resultado é o mesmo: o mundo inteiro de um lado; Israel, EUA, alguns atóis dos mares do sul e a Austrália, no lado oposto. Ano passado, o resultado da votação foi 164 a 7. Todos os anos, desde 1989 (em 1989, o resultado foi 151 a 3), é sempre a mesma coisa: o mundo a favor de uma solução pacífica para a questão da Palestina; e EUA, Israel e a ilha-Estado de Dominica, contra.

A Liga Árabe, todos os 22 Estados-membros da Liga Árabe, são favoráveis a uma chamada "Solução dos Dois Estados", com as fronteiras determinadas em junho de 1967. A Autoridade Palestinense é favorável à mesma "Solução dos Dois Estados" e às mesmas fronteiras determinadas em junho de 1967. E o Hamás também é favorável à mesma "Solução dos Dois Estados" e às mesmas fronteiras demarcadas em junho de 1967. O problema é Israel, patrocinado pelos EUA. Esse é o problema.

Bem... Há provas de que o Hamás desejava manter o cessar-fogo; exigiu, como única condição, que Israel levantasse o bloqueio de Gaza. Muito antes de começarem os rojões do Hamás, os palestinenses já enfrentavam terrível crise humanitária, por causa do bloqueio. A ex-Alta Comissária para Direitos Humanos da ONU, Mary Robinson, descreveu o cenário que testemunhou em Gaza como "destruição de uma civilização". Isso, durante o cessar-fogo.

O que se vê nos fatos? Os fatos mostram que nos últimos mais de vinte e tantos anos, toda a comunidade internacional procura um modo de resolver o conflito das fronteiras de 1967, com solução justa para a questão dos refugiados. Será que 164 Estados-membros da ONU estão sempre errados, e certos e pacificistas seriam só EUA, Israel, Nauru, Palau, Micronésia, as ilhas Marshall e a Austrália? Quem é pacifista? Quem trabalha contra a paz?

Há registros e documentos que comprovam que, em todas as questões cruciais discutidas em Camp David; depois, nos parâmetros de Clinton; depois, em Taba, em cada ponto discutido, os palestinenses sempre fizeram concessões. Israel jamais concedeu qualquer coisa. Nada. Os palestinenses repetidas vezes manifestaram decisão de superar a questão das fronteiras de 1967 em estrito respeito à lei internacional.

A lei também é claríssima. Em julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça, órgão máximo da ONU para questões de direito internacional, declarou que Israel não tem direito de ocupar nem um metro quadrado da Cisjordânia nem um metro quadrado de Gaza. Israel tampouco tem qualquer direito sobre Jerusalém. O setor Leste de Jerusalém, os bairros árabes, nos termos da decisão da mais alta corte de justiça do planeta, são território da Palestina ocupado ilegalmente por Israel. Também nos termos de decisão da mais alta corte de justiça do planeta, nos termos da lei internacional, todas as colônias de judeus que há na Cisjordânia são ilegais.

O ponto mais importante de tudo isso é que, em todas as ocasiões em que se discutiram essas questões, os palestinenses sempre aceitaram fazer concessões. Fizeram todas as concessões. Israel jamais fez qualquer concessão.

O que tem de acontecer é bem claro. Número um, EUA e Israel têm de se aproximar do consenso da comunidade internacional e têm de respeitar a lei internacional. Não me parece que trivializar a lei internacional seja pequeno crime ou pequeno problema. Se Israel contraria o que dispõe a lei internacional, Israel tem de ser acusada, processada e julgada em tribunais competentes, como qualquer outro Estado, no mundo.

O presidente Obama tem de considerar o que pensa o povo dos EUA. Tem de ser capaz de dizer, com todas as letras, onde está o principal obstáculo para que se chegue a uma solução para a questão da Palestina. O obstáculo não são os palestinenses. O obstáculo é Israel, sempre apoiada pelo governo dos EUA, que, ambos, desrespeitam a lei internacional e contrariam o voto de toda a comunidade internacional.

Hoje, o principal desafio que todos os norte-americanos temos de superar é conseguir ver a verdade, por trás das mentiras.

Norman Finkelstein

sábado, 10 de janeiro de 2009

Novo cd da DMB

O novo cd da Dave Matthews Band vai ser lançado no dia 14/04 em um puta show no Maddison Square Garden, em NY, o primeiro da spring/summer tour 2009 deles.

O álbum do que com certeza vai ser uma nova fase da banda: o primeiro após 4 anos de inéditas, o primeiro após a partida de um integrante original, o primeiro em uma nova conformação mundial, em um mundo algo diferente de 2005.

Junto à eles, Tim Reynolds na guitarra, Rashawn Ross no trompete e Jeff Coffin no sax. Jeff substituíu o primeiro fundador dessa banda espetacular a deixá-la. No caso, cataploft: Leroi Moore, nosso querido saxofonista grandão, caladão e tímido (sempre tocava de óculos escuros) morreu em agosto do ano passado, numa quarta-feira fatídica pra mim.

(O ano de 2008 aliás, como vimos nestas páginas digitais, foi difícil pro autor destas mesmas linhas. Além do Leroi, outras duas constantes cosmológicas sumiram: Esbjörn Svensson, em junho, e em setembro, encerrando com qualquer mínima esperança que existira neste pequeno coração de algum dia ver o Pink Floyd ao vivo, Richard Wright vai embora)

Jeff Coffin foi ordenado como novo integrante da Dave Matthews Band. Todos eles, me desculpem, eu 'conheço de perto' =D. Não consigo ainda nem mensurar a importância que foi vê-los ao vivo no Rio de Janeiro em 2008. Cada dia percebo mais e mais como aquele evento espetacular foi importantíssimo para a minha vida.

O Tim é um baixinho de cabelo comprido e grisalho, mas tão grisalho, e velho que difícil não é compará-lo ao Keith Richards (tanto na capacidade monstruosa de sobreviver às drogas quanto, ouso dizer mais, na música!).

O Rashawn não dá pra falar. O bicho é um puta dum armário 3 por 4! O cara é uma montanha que não se move, só consegue tocar aquele trompete. De certo modo, ele não estava muito espirituoso no dia do show. Estava mais, estava emocionado. Lágrimas escorriam quando fizemos as várias homenagens ao seu puta amigo Leroi, que conviveu com ele tantos anos.

Agora o Jeff tava encapetado. Enquanto Leroi possuía um estilo de tocar mais layback, mais "relaxado", da sua formação musical mais soul, melódica que te trazia mais o foco da calma, o Jeff é mais enérgico, mais inebriante, virtuoso - Você: vibra!

Pois é, depois disso tudo e tals, a verdade é a seguinte:

Alguem me dá de aniversário?
Hein?
=D

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Lydda e Ramla

Para comprender o conflito atual, que se perde infelizmente entre tantos outros da existência Arab-Israeli, faz-se necessário uma exaustiva análise histórica (o que não farei aqui). Qualquer opinião pouco fundamentada norteada pelo (desculpem-me o trocadilho) bombardeio de notícias d'última hora que temos se torna leviana. Digo porque creio haver muito mais do que o exposto na mídia: a desproporção blatante da força bélica israelense, a contagem de mortos aos pulos de dezenas a cada ogiva de artilharia, ou as palavras que são proferidas nas arenas da linguagem, dos discursos, dos debates: vítimas; direito; dever; contra-ataque; aviso; etc e mais etc. De tudo o que está exposto, o que não é visto se torna essencial.

Em 1948 a história oficial que nos enfiam perpetuada pelo governo israeli e particularmente pelos estúpidos de plantão, conta que os palestinos "fugiram voluntariamente" de suas casas, fazendas e plantações, de seus animais suas parcas indústrias para os países vizinhos, árabes, e que foram acolhidos. É desta época a criação do estado de Israel.

Para tornarem crível esta lorota, é dito que os governos dos países vizinhos árabes realizaram transmissões de rádio dando boas vindas aos palestinos, defendendo a criação da área definida pela ONU para Israel. Coisa que, de fato, nunca ocorreu.

Existiam duas cidades na Palestina: Lydda e Ramla. Cidades estas com cerca de 100 mil habitantes. A ocupação de Israel foi, no mínimo, brutal: Yitzhak Rabin, o então comandante da operação, desaloja a pouca resistência da causa palestina e fez com que milhares (as contagens giram em torno de 70 mil) de pessoas caminhassem, durante o verão do deserto até cidades mais próximas, distantes quarenta quilômetros. Milhares, milhares de pessoas morreram no deserto, de sede e fome.

Vê-se que a desproporção é tônica e fundamental na política israelense; o terrorismo alestino como forma de 'sobrevivência' não eleva ou gera qualquer resultado político neste contexto; desrazão que é impressa nas páginas esquecidas, e das que ainda serão escritas, da história.

Alguns fatos, retirados daqui, aqui, e fortemente baseados na análise de Illan Pappé.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Exit Music

Preocupado
em escrever algo
para fechar o ano...

Não percebi
que ele havia
chegado ao fim.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Tudo vai dar certo, meu amigo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Recesso







Final de semestre ...
semana de provas...

Volto logo em seguida!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A Sociedade do Espetáculo - 13

13

O caráter fundamentalmente tautológico do espetáculo decorre do simples fato de os seus meios serem ao mesmo tempo a sua finalidade. Ele é o sol que não tem poente, no império da passividade moderna. Recobre toda a superfície do mundo e banha-se indefinidamente na sua própria glória.

domingo, 30 de novembro de 2008

Aforismos - I

I

Às vezes, sinto falta de uma conversa existencial. Das que compartilhamos as experiências, sem nenhum assunto específico. Lentamente expondo nossos receios e vivências, sem necessidade de impor o quanto achamos que somos bons; ou reconhecer o quanto não gostaríamos que os outros fôssem.

"They are not going to win" (será?)

"Dear Community, as long I am providing my eDonkeyServer I was not minded to do any request on emule forum.


But actually the whole eDonkey network has very tough times, not only the legacy issues which force a lot of eDonkey server administrator to stop their server.

Also we have "internal" problems now.

The biggest problem is the financial aid, actually it is only possible to earn money about control the welcome message on visiting the eDonkey server. But only a few clients read this message and we have a very very small amount of clicks on our website.

So it is financially very tight calculated, we have server to pay, traffic and especially a hugh amount of lawyers' fees to say nothing about the mentally stress to provide such a server, it is not easy to be part of the enemys of RIAA, BREIN and all the other guys which would preferably send me in prison for some years. "

Quem escreve estas palavras é o criador do Emule, no forum oficial do programa (a sua primeira postagem em quase 8 anos de existência).

Não sei se conseguimos compreender a importância do Emule para a difusão do conhecimento mundial, principalmente o audiovisual. Há algumas semanas os 'servidores confiáveis', aqueles que retornam todas as buscas que você faz independente de copyright
, diminuíram drasticamente. Certa variação que existe há cerca de uns dois anos, mas não com tamanha intensidade. Nesta semana, pudemos contar com 6 servidores confiáveis do emule, com menos que 1 bilhão de arquivos (número que nos tempos áureos já passou de 370 servidores, com mais de 49 bilhões de arquivos).

A batalha contra a RIAA, as gravadoras, a 'Justiça' e o conservadorismo na propriedade da Música é um pouco antiga (relembrem a queda moral do Metallica quando moveu uma ação contra o Napster há alguns anos). Embora na Grande Mídia o emule foi assunto durante algum tempo, com todos os seus percalços, nunca achei que ele tivesse qualquer possibilidade de se extinguir de forma concreta.

Principalmente porque sou sonhador, e o Emule e seus usuários-componentes, todos nós, éramos como os depositários de grande parte da cultura audiovisual digital da humanidade. Sem brincadeira. Qualquer coisa digital que você quisesse encontrar com qualidade na Terra estava depositada naquele programinha, em seus usuários através de seus servidores. Não digo muito quanto às atualidades, blockbusters, últimos lançamentos da indústria fonográfica norte-americana ou jogos de última geração: estes se esvaiam com o tempo (embora o Emule também se prestasse muito bem a isso). Se você não conseguisse encontrar no Emule o que você procurava meu amigo, poderia esquecer.

A importância do Emule é mágica: ele é feito por pessoas comuns como nós que, acreditando no valor de nossas bibliotecas musicais e em nossos filmes, ano após ano disponibilizam todo seu acervo (no meu caso uma parte menor pois nunca tive muito espaço no computador) para todos que algum dia gostariam de ouvir/ver qualquer coisa. Muito se fala sobre a lentidão do Emule, mas o Emule é baseado em um sistema muito simples: democracia+recompensa.

Eu, que já estou nestas realidades há algum tempo, pego meus álbuns e filmes com absurda velocidade. Pois eu disponibilizei tudo que eu baixei a minha vida inteira por um bom tempo, e continuo disponibilizando tudo que baixo, 24hs por dia e 7 dias por semana, para qualquer alma humana que, em qualquer lugar deste pequeno planetinha, queira ser parte dessa unidade. Eu devolvo o que eu consigo

A pergunta agora é: por que o Emule está capengando?

De modo algum pelos meios legais; muito embora o planeta hoje seja um bastião da segurança e da vigilância, bravos países ditos desenvolvidos e com certeza democráticos mantém em sua legislação oposição ferrenha a qualquer tipo de intrusão à liberdade individual e ao lobby das gravadoras. De modo que os servidores hospedados nesses países, tendo a Holanda como um dos principais (calma lá, será essa a Terra Prometida?), conseguem sobreviver à batalha judicial das gravadoras e da RIAA.

A resposta é muito simples:

O Emule está capengando pelo terrorismo impetrado pela RIAA e pelas gravadoras.

A palavra terrorismo pode soar muito forte, mas vejam o que um dos responsáveis por um dos principais servidores escreve:

"Some companies are now able to target DDOS attacks of about 5 millions packets per second
on the destination they want, letting it last one month if they want."

Em informática, DDOS atack é um tipo de ataque (no sentido bélico da palavra) no qual muitos computadores (mas muitos mesmo) mandam pequenos pedaços de mensagem a um único computador (neste caso um servidor), requisitando qualquer informação. Quando este computador tenta responder às solicitações constantes nas mensagens que recebe, se não tiver capacidade (o que ocorre na maioria dos servidores "piratas) ele pifa. Em outras palavras, imaginem uma pessoa que num discurso capital tenta responder todas as perguntas de uma grande platéia que lhe são atiradas ao mesmo tempo (mesmo que tais perguntas não almejem qualquer sentido).

Este é o modus operandi que as gravadoras e a RIAA seguem. Ultrapassando os meios legais , pagando muito pelos melhores advogados em direito internacional da atualidade, elas fazem jogo-baixo (que não é de nenhum modo revelado) ao esmagar indivíduos e pequenas comunidades virtuais que se esforçam na luta contra todo o sistema.

Dito isso, por toda a minha história eu sou e serei fiel ao Emule. Por ter feito e fazer parte de forma tão visceral a essa comunidade, sinto uma puta punhalada no meu peito quando vejo uma das coisas que eu mais amo e acredito na minha vida ser dilacerada de forma tão baixa pelas gravadoras e pelo capital.

Mas a vida é assim mesmo, não é?

sábado, 29 de novembro de 2008

Berlin: die Sinfonie der Großstadt, 1927

Eu resolvi seguir o acaso e peguei o dvd que estava no topo da pilha, seguindo a lista enumerada anteriormente (que não segue, creio, ordem nenhuma de importância/data/país etc). Berlim, A Sinfonia da Metrópole, de Walther Ruttman.

Algumas semanas atrás, o Belém havia me emprestado o livro Introdução ao Documentário Brasileiro, de Amir Labaki, que traça um panorama histórico com as obras mais importantes do documentário nacional. Ele citava a obra São Paulo - Sinfonia da Metrópole de 1929, cujos autores, Adalberto Kemeny e Rudolf Rex Lustig, no Brasil mas de naturalidade húngara, evidentemente seguiram a idéia original deste filme. Assim, eu já possuía alguma idéia, pelo livro, sobre o que esperar deste Berlim. E ainda bem, me surpreendi muit: imaginara algo muito aquém da grandiosidade deste filme

Porque a saber pela data estampada na capa, 1927 (81 anos atrás), pensei que encontraria um filme de linguagem simples (não se esqueçam sobre meu saber ridículo sobre o tema), predominantemente histórico, sem fundo crítico ou social (ao contrário da escola soviética de Vertov e Eisenstein). Ledo engano.

Participamos, vendo o filme, de um dia em Berlim, do amanhecer ao mais tardar da noite. O filme é dividido em atos, que separam este dia fictício (montagem: esta é a palavra original desta obra). Já nos primeiros momentos, uma pequena amostra da beleza que estaria por vir: na panorâmica montada no trem, que vinha do interior calmo, sereno, vazio, somos levados de choque destas paragens bucólicas ao progresso: trilhos, fios elétricos, pontes, numa rápida sucessão de imagens, lembrando-nos que a cidade é feita de aço e eletricidade.

Contrário ao filme original que é mudo, esta versão que assisti possui trilha sonora, muito bem composta e unida à estética da película, por Timothy Brock em 1994 (a trilha sonora original se perdeu). Sinfônica, cuja sonoridade e composição antigas, a la Wagner, facilmente me enganaram, acreditando que era a trilha original do filme. De certo modo, creio que ela facilitou de maneira imprescindível minha aceitação ao filme, e contribuiu de sobremaneira para o viés de minha análise.

Porque da união da trilha sonora com o filme sentimos uma palavra: grandiosidade. A cidade de Berlim se torna grandiosa, um organismo vivo que necessita de alimententação para suas indústrias, fornalhas, seu maquinário pesado, cujos operários que a alimentam (no sentido entomológico) são as pessoas (ausentes nos primeiros minutos, saem às ruas como formigas correição).

Há alguns elementos de cunho sociopolítico, contraposições das classes sociais, pobres e ricos, nos vários momentos do dia: o almoço do peão de obra e do burguês no restaurante chique, as mulhers com seus empregos nos jornais (que nos fazem lembrar o quão importante é a comunicação de massa para a nossa sociedade, de antes e, principalmente, de hoje), a diversão dos opostos (os cavalos e teatros para os ricos, os esportes e as piscinas para os pobres); muito embora estas passagens, a crítica não é lacinante, expõe mas é rapidamente atenuada pela idéia de que o que importa é a metrópole, Berlim, a metrópole que necessita destas pessoas para existir.

As linhas de circulação de pessoas (bondes, metrôs, carros, carroças) conectam o filme. Há um momento factual que demonstra grandiosidade da obra e de sua linguagem: entre os bondes e trens que circulam apinhados de pessoas quase se esbarrando nas curvas, a dinâmica do filme , velocidade e movimento, ruas, pessoas, em um momento, um policial fecha o cruzamento e também cessa o movimento do espectador: neste exato instante, com o tempo parado, um mendigo aparece, catando bitucas de cigarro espalhadas pelo chão. Muito embora toda a grandiosidade e união da cidade, há pessoas do lado de fora da festa.

Esta é uma das boas críticas que o filme faz, entre outras, como a cena do almoço do rico e do peão já citado, mas que, infelizmente, é rapidamente engolida pela velocidade das tipografias dos jornais, do trabalho nas fábricas e no movimento das ruas. A noite, os divertimentos, os espetáculos teatrais, a boa vida. Por fim, fogos de artifício. A imagem de Berlim, metrópole e supra-organismo-nação, é uma imagem de felicidade, belle époque na golden age, progresso, união e alguma harmonia (todos, muito embora seus papéis, são todos parte de uma grande epopéia, de algo único e brilhante).

Em 1927 a República de Weimar na Alemanha colhia os frutos em sua era de ouro, período de renascimento cultural e economico, que iria findar-se em 1929-30. Por isso a importância deste filme, tanto como cinema quanto peça histórica. A beleza impressionante deste filme, com sua cidade da esperança, o tom feliz, a falsa união forjada, contrastam-se com os anos de terror e medo que viriam após com a subida do Partido Nazista no poder. Em uma cena, soldados alemães marcham por uma rua, única cena militar entre um filme todo civil: o que parece ser aquele prenúncio pequeno, embora fundamental, da história que não tardaria a vir.

Como realização cinematográfica, social, histórica, política, estética, artística, este é um dos documentos mais importantes já produzidos pelo homem. A trilha sonora é muito boa, contrapondo o ritmo mecanico e automático das máquinas com passagens calmas e melódicas quando as pessoas são foco. Todas as suas contradições e ambiguidade só demostram o seu real valor em todas estas áreas, e acima de tudo, como fator estimulante para uma reflexão crítica e subjetiva sobre cinema, arte, história, realidade. Sem dúvida, um dos melhores filmes que já vi.