É claro que seria muita pretensão minha entender o por quê da vida. No post anterior, defendi uma teoria de como tornar as coisas mais interessantes, de como tornar o seu quintal em uma planície vasta, em que houvesse uma ríquissima flora de onde poderiam ser obtidas muitos sabores, cheiros e cores.
Os que me conhecem percebem que há muito adoto uma postura agnóstica, tendendo ao ateísmo puro. Fruto, em grande parte, de minha formação acadêmica. Dificilmente eu poderia ter saído ileso daquele front, ainda mais imerso, com tanto prazer, em teorias várias, livros e pesquisas tão ímpares, tão eloquentes, tão ... elegantes.
Ainda mais se tratando da Biologia. Minha ciência é um meio termo entre ciências exatas e inexatas. Não possuímos, na maior parte das vezes, as ferramentas que podem nos dar o ponto crítico da prova em que apoiar nossas elaborações, ao contrário da física e a matemática. Mesmo assim, um dos grandes pensadores da humanidade emergiu de nossas fileiras. Darwin, que juntamente com Nietzsche, Marx e Freud, conseguiu desestruturar grande parte da história do pensamento do homem, atingindo de forma contundente suas bases (que foi tratado brilhantemente pelo meu amigo João Franco em um ótimo ensaio, intitulado "O Direito e os Golpes sobre o Narcisismo da Humanidade).
Peço desculpas pelo "meio de campo"... Na verdade, comecei a me perder com muita mais facilidade nos últimos anos. E é justamente sobre isso que eu tento escrever agora. Dentre as várias coisas importantes que me ocorrem, duas me têm tirado do prumo.
A primeira é que, talvez pela primeira vez na vida, eu estou com medo. Um medo grande do futuro. Medo por estar no controle da minha vida totalmente e não poder culpar mais a ninguém pelos "sucessos" e pelos fracassos (Ainda mais porque não defini o que é "sucesso" ainda). Medo porque não me sobra tempo para fazer o que gosto, (e sempre tive muito tempo sobrando) porque me arrisco em uma profissão que nunca pensei que poderia ser (e pra falar a verdade, sempre tripudiei). Mas não só isso.
Porque tive um sonho absurdo esses dias.
Eu sonhei que eu estava parado, talvez em um quarto escuro (meus sonhos são muito caóticos, mas me lembro bastante deles. Do que sobra, costuro...), e estava em pé. Olhava pra uma linha prata em uma tela escura , e essa linha ia se expandindo em várias direções, em vários ramos, uns mais grossos, outros mais delgados. Era uma grande sebe espinhosa que ia se expandindo infinitamente, pra onde ela pudesse preencher no campo neutro e escuro que era seu fundo.
E ali, eu reconheci um ramo destacado, que chamou a minha atenção... era uma linha bem delineada, que seguia vários horizontes, trilhava vários caminhos, contorcia-se e espiralava-se. Alargava... afinava... Até que parava... E depois de algum tempo, enquanto toda a trepadeira se diversificara o bastante, ela retornava o seu crescimento.
Confesso que não cheguei ao final do sonho, pois no meio dele eu reconheci que aquele fio destacado era a minha vida. Acordei com essa imagem na minha cabeça: minha vida e toda a vida do mundo. E quando me dei conta dessa alusão, só consigo me lembrar do tamanho inesgotável da trepadeira em comparação ao pequeno ramo que eu era.
É claro que é ridículo pensar assim ... É puro egocentrismo e narcisismo, querer abarcar todo o mundo, tentar compreender a totalidade da vida, sorver absolutamente o sentimento do mundo.
Mas isso me amedronta. Me amedronta porque não tenho projeto de mim perfeito e acabado, em que eu possa apoiar-me para lutar doravante. Ainda mais quando não tem como acreditar mais em um ordenador, em um provedor, algo superior que possa, se não escrever seu caminho, pelo menos auxiliar em algum momento mais difícil. Por muito tempo eu acreditei nisso, fui criado assim. Hoje, não é mais questão de pouca fé. A fé, esse novelo simbólico que trouxe a maioria das desgraças do mundo, junto com a ganância, não faz parte mais do meu vernáculo.
Eu consegui até hoje me desvencilhar de muitos problemas de minha vida com muita sorte. Os que não consegui e me arrebentaram, eu levo guardado muito fundo, mas não o bastante para que não consigam me atormentar em intervalos muito próximos de tempo.
Essa é a minha fábula infame.
O segundo dos meus tormentos últimos é como acreditar em qualquer tipo de ideal superior? Como desvencilhar dessa criação, dessa forma, dessa lama que sou eu e de onde eu emergi? Como esperar racionalidade onde a emoção e a paixão descontroladas clamam pelos fundamentos de sua infância?
Acima de tudo pra mim, o que antes poderia ainda ter de plano e apoiável, instavelmente desmoronou, como aquele grande bastião de pedra, martelado incessantemente pelos canhões de 24 polegadas de sua nobre majestade, foi reduzido a pó. Assim, mais uma das incontáveis chacinas da humanidade foi feita.
Refiro-me, antes de mais uma divagação, ao fato de que eu só pude conhecer o gênio do qual furto as palavras deste título e também sua imagem após sua morte. Só conheci Esbjörn Svensson depois que ele despediu-se no oceano. Depois de ler a notícia, corri atrás de seus albuns. Nem pude pagar por eles, pois alem de serem difíceis de se achar, era mais fácil procurar na internet.
Não pude prestar nenhuma homenagem a ele quando vivo. Não pude falar seu nome em bom tom em uma conversa de amigos antes que ele se extinguisse. Isso me entristece muito. E somente hoje a ficha realmente caiu.
E caiu de forma avassaladora. Pois hoje percebo que minha fábula infame está intimamente ligada à instabilidade da mesa em que jogo. E relembrando meu sonho, sinto medo e grande pesar por tudo que eu deixo de escapar e que seria maravilhoso pra minha vida.
E sei que não há como retirar estas características, estes adjetivos, sem perder uma grande essência do que fui e do que sou.
Portanto, se de alguma forma eu pudesse consertar algum erro plenamente, eu gostaria de iniciar pedindo perdão e prestando alguma homenagem a Esbjörn Svensson, que morreu aos 44 anos, abraçado pelo mar.
(e continuo a me perguntar: até quando sentirei saudade de tudo que ainda não vi?)
Os que me conhecem percebem que há muito adoto uma postura agnóstica, tendendo ao ateísmo puro. Fruto, em grande parte, de minha formação acadêmica. Dificilmente eu poderia ter saído ileso daquele front, ainda mais imerso, com tanto prazer, em teorias várias, livros e pesquisas tão ímpares, tão eloquentes, tão ... elegantes.
Ainda mais se tratando da Biologia. Minha ciência é um meio termo entre ciências exatas e inexatas. Não possuímos, na maior parte das vezes, as ferramentas que podem nos dar o ponto crítico da prova em que apoiar nossas elaborações, ao contrário da física e a matemática. Mesmo assim, um dos grandes pensadores da humanidade emergiu de nossas fileiras. Darwin, que juntamente com Nietzsche, Marx e Freud, conseguiu desestruturar grande parte da história do pensamento do homem, atingindo de forma contundente suas bases (que foi tratado brilhantemente pelo meu amigo João Franco em um ótimo ensaio, intitulado "O Direito e os Golpes sobre o Narcisismo da Humanidade).
Peço desculpas pelo "meio de campo"... Na verdade, comecei a me perder com muita mais facilidade nos últimos anos. E é justamente sobre isso que eu tento escrever agora. Dentre as várias coisas importantes que me ocorrem, duas me têm tirado do prumo.
A primeira é que, talvez pela primeira vez na vida, eu estou com medo. Um medo grande do futuro. Medo por estar no controle da minha vida totalmente e não poder culpar mais a ninguém pelos "sucessos" e pelos fracassos (Ainda mais porque não defini o que é "sucesso" ainda). Medo porque não me sobra tempo para fazer o que gosto, (e sempre tive muito tempo sobrando) porque me arrisco em uma profissão que nunca pensei que poderia ser (e pra falar a verdade, sempre tripudiei). Mas não só isso.
Porque tive um sonho absurdo esses dias.
Eu sonhei que eu estava parado, talvez em um quarto escuro (meus sonhos são muito caóticos, mas me lembro bastante deles. Do que sobra, costuro...), e estava em pé. Olhava pra uma linha prata em uma tela escura , e essa linha ia se expandindo em várias direções, em vários ramos, uns mais grossos, outros mais delgados. Era uma grande sebe espinhosa que ia se expandindo infinitamente, pra onde ela pudesse preencher no campo neutro e escuro que era seu fundo.
E ali, eu reconheci um ramo destacado, que chamou a minha atenção... era uma linha bem delineada, que seguia vários horizontes, trilhava vários caminhos, contorcia-se e espiralava-se. Alargava... afinava... Até que parava... E depois de algum tempo, enquanto toda a trepadeira se diversificara o bastante, ela retornava o seu crescimento.
Confesso que não cheguei ao final do sonho, pois no meio dele eu reconheci que aquele fio destacado era a minha vida. Acordei com essa imagem na minha cabeça: minha vida e toda a vida do mundo. E quando me dei conta dessa alusão, só consigo me lembrar do tamanho inesgotável da trepadeira em comparação ao pequeno ramo que eu era.
É claro que é ridículo pensar assim ... É puro egocentrismo e narcisismo, querer abarcar todo o mundo, tentar compreender a totalidade da vida, sorver absolutamente o sentimento do mundo.
Mas isso me amedronta. Me amedronta porque não tenho projeto de mim perfeito e acabado, em que eu possa apoiar-me para lutar doravante. Ainda mais quando não tem como acreditar mais em um ordenador, em um provedor, algo superior que possa, se não escrever seu caminho, pelo menos auxiliar em algum momento mais difícil. Por muito tempo eu acreditei nisso, fui criado assim. Hoje, não é mais questão de pouca fé. A fé, esse novelo simbólico que trouxe a maioria das desgraças do mundo, junto com a ganância, não faz parte mais do meu vernáculo.
Eu consegui até hoje me desvencilhar de muitos problemas de minha vida com muita sorte. Os que não consegui e me arrebentaram, eu levo guardado muito fundo, mas não o bastante para que não consigam me atormentar em intervalos muito próximos de tempo.
Essa é a minha fábula infame.
O segundo dos meus tormentos últimos é como acreditar em qualquer tipo de ideal superior? Como desvencilhar dessa criação, dessa forma, dessa lama que sou eu e de onde eu emergi? Como esperar racionalidade onde a emoção e a paixão descontroladas clamam pelos fundamentos de sua infância?
Acima de tudo pra mim, o que antes poderia ainda ter de plano e apoiável, instavelmente desmoronou, como aquele grande bastião de pedra, martelado incessantemente pelos canhões de 24 polegadas de sua nobre majestade, foi reduzido a pó. Assim, mais uma das incontáveis chacinas da humanidade foi feita.
Refiro-me, antes de mais uma divagação, ao fato de que eu só pude conhecer o gênio do qual furto as palavras deste título e também sua imagem após sua morte. Só conheci Esbjörn Svensson depois que ele despediu-se no oceano. Depois de ler a notícia, corri atrás de seus albuns. Nem pude pagar por eles, pois alem de serem difíceis de se achar, era mais fácil procurar na internet.
Não pude prestar nenhuma homenagem a ele quando vivo. Não pude falar seu nome em bom tom em uma conversa de amigos antes que ele se extinguisse. Isso me entristece muito. E somente hoje a ficha realmente caiu.
E caiu de forma avassaladora. Pois hoje percebo que minha fábula infame está intimamente ligada à instabilidade da mesa em que jogo. E relembrando meu sonho, sinto medo e grande pesar por tudo que eu deixo de escapar e que seria maravilhoso pra minha vida.
E sei que não há como retirar estas características, estes adjetivos, sem perder uma grande essência do que fui e do que sou.
Portanto, se de alguma forma eu pudesse consertar algum erro plenamente, eu gostaria de iniciar pedindo perdão e prestando alguma homenagem a Esbjörn Svensson, que morreu aos 44 anos, abraçado pelo mar.
(e continuo a me perguntar: até quando sentirei saudade de tudo que ainda não vi?)
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Now playing: E.S.T. - Ballad For The Unborn
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