segunda-feira, 27 de abril de 2009

"se quer ver, veja, mas não leia"

Acho que todo mundo meio que já conhece minha ingrisia com a 'veja' e sua trupe de palhaços acrobatas.

Acontece que li muito a revista durante muito tempo. Até hoje, quando tenho oportunidade, dou uma lida na revista, procuro sempre a parte de "crítica" cultural ao final (que de quando em quando salva alguma coisa) e, claro, rio muito das estultices que ela publica.

Então pensando cá...
talvez eu esteja sem motivo pra vida?
um amargurado daqueles, que se refestela com qualquer tropeçada alheia?
um chato sem assunto original?

Não acho que seja isso. Pelo menos acho que não com a veja.

(Concordo que, no caso do rubinho barrichello, por exemplo, eu seja intransigente: é repugnância profunda por aquela lesma; mas ele bem que merece um post bem comprido sobre o que acho de sua gosminha.)

Voltando: o problema principal da veja é que ela costumava ser uma revista. Inegável até sua importância para a democracia brasileira e o cenário político. Capas magistrais e análises cuidadosas trouxeram bons frutos ao nosso país (p.ex, a do pedro collor de melo).

Só que tudo isso foi por água abaixo há muito tempo...

Que hoje ela sobrevive com uma roupagem bem moderninha classe média branca "i love usa", " i need a s.u.v de dois andares", " i want a house in condomínio fechado": tá na cara, é só ler uma revista inteira. Nem tem mais a capacidade de ocultar o jogo que fazem: escancararam tudo há algum tempo.

Daí que ela me saiu com essa agora (uma discussão mais ampla está no site do idelber)

Resumindo a ópera:
A veja publicou uma figura sobre DNA totalmente errada.
Não pouco: conceitualmente muito errada.
E sabendo que essa joça atinge muitas pessoas ditas 'formadoras de opinião' e que fazem parte da elite de nuestro país, um pesquisador da USP Ribeirão, Ricardo Vêncio, escreveu polidamente demonstrandos os erros crassos da reportagem.

É inacreditável, mas esta foi a resposta da revista:

Prezado Ricardo Z. N. Vêncio,

Agradecemos as observações sobre a reportagem "Um gene, várias doenças" (22 de abril de 2009 - página 98). Consultamos os jornalistas responsáveis pela reportagem. Eles nos forneceram os seguintes esclarecimentos: "Por não ser uma revista científica, VEJA pode sim representar os genes como bolinhas. Cometeríamos erro se tivéssemos trocado os genes pelo DNA ou coisas do gênero. As imagens publicadas foram obtidas em bancos de imagens e estão identificadas da mesma forma como aparecem em VEJA."

Atenciosamente,

Redação/Revista VEJA (www.veja.com.br) .

É ou não é inacreditável? Vamos partir dessa auto-permissão de mentir, ludibriar e manipular o leitor para fazer algumas analogias possíveis:

a) como a veja não é revista de análise política, ela pode representar o governo Lula como um desgoverno que não sabe o que faz
b) como a veja não é revista financeira, ela pode manipular a crise e insuflar o medo todos os dias
c) bom, a veja também não é revista imparcial, podemos colocar os cães de guarda da direita (o tio rei azevedo, o mainardi) a vociferar, sempre com uma roupagem de isenção.

Pensei só nesses exemplos, mas outros muitos existem para pensarmos juntos.

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Este caso da veja me lembra um fato ocorrido conosco na faculdade, lá no Instituto de Ciências Biológicas da UFG nos idos de 2003.

A discussão era sobre Evolução Humana: terreno bastante pantanoso, se não feito uma rigorosa estipulação metodológica para não incorrer em induções erradas.

Em sala com o professor (diga-se de passagem, um tremendo professor: infelizmente somente lá no púlpito), essa amiga nossa trouxe uma argumentação baseada em uma reportagem (até muito correta à época) publicada pela veja daquela semana.

Com o qual nosso professor, algo descompensado com a 'novidade', esbraveja com ela: "donde tu tirou isso?"

Ela responde: eu li na veja.

Pra quê... pra quê.

Vocês não acreditam o piti que esse professor deu em cima da garota, coitada. Só me lembro do finalmente:

"E Veja lá é revista científica? Serve pra alguma coisa? Nem pra limpar o r.... aquela coisa serve"

À época, achei engraçado (no momento) alguém trazer argumentos da veja para a sala de aula: era notório nos corredores a quantidade de besteira que a revista publicava. Ri de verdade da ingenuidade da menina, eu cheio de certezas e despeito com o mundo.
Depois, lembro que todos nós ficamos chateados com o episódio e o modo como o professor esporrou na moçoila.

À época ...

Hoje, não dá mais... Ele está com a razão: desconfiem da veja. Sempre.

2 comentários:

Gabs disse...

Implacável!

Walker disse...

:) EU tbm, quando leio leio a revista leio do fim pro começo!