sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Abismos - Parte II

A cada dia, mais e mais notícias sobre a situação calamitosa da "segurança" no país e, em especial, nosso estado. Espocam flashes sobre execuções, grupos de extermínios, estupros, assassinatos cruéis, montantes infindáveis de drogas apreendidas e mais e mais a contagem de corpos chega a números assustadores.

Em Goiás, estamos atravessando por períodos turbulentos. A mídia goiana, seguindo a postura das tendências da mídia nacional, cada dia reserva mais espaço para o noticiário policial. Com o aumento da atenção sobre o sistema prisional do estado, mais e mais absurdos vêm à tona (casos como o das mulheres e adolescentes presas no Entorno, os grupos policiais de extermínio, dentre outros). Estas realidades, que em nenhum momento desaparecem se não estão em voga na mídia, pré e pós existindo após o circo midiático, denotam a sistemática violência e as torturas do mundo atual, o que pode contribuir de modo positivo para a mudança das instituições goianas.

Ocorre que a postura questionadora do "por que" de tudo isto não ocorre, de ambos os lados, do que articula e do que recebe o discurso. Do ponto de vista da mídia, ela tem a dúbia postura "neutra" na transmissão dos fatos. Do lado oposto, os receptores não denotam nenhuma postura cética ou crítica ao discurso que recebem, situando-se como ponto final de um caminho que deveria ser de mão-dupla.

A questão se torna cada vez mais complicada quando entram em jogo as posturas do Executivo (responsável pelas cadeias e acatar as ordens) e do Judiciário (o famoso "quem manda prender"). O primeiro, sempre caduco por falta de verbas, dá as mais variadas explicações (licitações estão em andamento, isso não é isso, é aquilo etc) que não deixam de ser verdade pois a burocracia ata tudo e todos em um mundaréu de amarras e algemas. Já o Judiciário, isolado da realidade, em seus palácios e tribunais esplendorosos, também reclama de falta de recursos (humanos, diga-se de passagem). E assim, cada qual vai lutando neste palco.

O que eu continuo nao concordando, em hipótese alguma, é com a postura do Judiciário na questão. Lendo hoje o jornal O Popular, vejo que os juízes do Entorno dizem que a situação é calamitosa, a prisão faliu, não recupera, reeduca ou retorna o indivíduo a sociedade (coisa que ouvimos desde o início da instituição), etc mais etc mas lembram que a superlotação nas cadeias é responsabilidade do Executivo.

Oras, com todo o sistema de penas alternativas, se houvesse bom senso dos juízes , deixassem esta mentalidade tacanha e agrária desse estado bunda que a gente vive, uma grande parte das pessoas nem passaria na porta da prisão. Jogar a culpa nas mãos do Executivo é passar a bola pra frente e nada acontece. O Judiciário necessita de uma postura ativa neste processo. Esse jogo de empurra empurra nada leva...

Mas há outro porém. A Lei de Drogas (Lei nº 11343/06) veda absolutamente a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos (penas alternativas), alem do tráfico ser considerado crime hediondo (como se colocando um rtulo algo mudaria). Acontece que muitos vão parar pela primeira vez na porcaria da CPP e depois no Cepaigo com o que? 18, 19, 20 anos, porque traficaram uma quantidade de drogas que as vezes é absurdamente ridícula. Às vezes 3 anos, 3 e meio de condenação (perfeitamente substitutível por uma restritiva de direitos).

Ocorre que quaisquer 7 meses dentro do Inferno o torna um demônio...

Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate

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Now playing: James Cotton Blues Band - Flip, Flop & Fly
via FoxyTunes

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Bushido


Ato IV, Cena II


Caminhava há muito tempo sem olhar para trás. A cabeça baixa, os olhos percorrendo as folhas, a terra, o musgo que permanecia como há séculos assentado por sobre as árvores. A folhagem bailava ao som da música invisível orquestrada pelo vento; entrava pelas copas das árvores e percorria, do alto até o chão úmido, o caminho que os espíritos fazem quando vêm às florestas, em noites estreladas, para resolver suas pendências de vidas passadas.

Melquíades, absorto, não percebe desta vez a presença do Diabo. Este olha aquele de longe, inquirindo sobre as razões de sua absoluta crença da proximidade do fim. Perscruta os pensamentos de Melquíades, e encontra uma confusão de certezas e dúvidas, como se existissem dois entes ou mais dentro daquele corpo.

Enquanto caminha, Melquíades sabe que o fim está próximo, palpável. Lembra-se dolorosamente dos odores e nuances do início da sua vida, agora que já não os percebe com facilidade. Sua respiração é difícil, sua garganta constringe seus pensamentos e, muitas vezes, sua visão. Quando se cansa, ele apóia-se em uma árvore, sua mão percorrendo e tateando os pequenos ramos do musgo que ali habita. Pressionado pelos dedos, o musgo percebe a triste energia incontida de Melquíades que flui para si, e sente pena do humano.

O Diabo atrás vai, sem alarde, a uma distância segura. Alcança a aura pensativa de Melquíades, e sussurra em seu pensamento: “Meu filho, é natural estar com medo”. Melquíades se conforta por um instante. Imagina que seus receios são infundados, e expulsa, mais uma vez, a sombra que ronda o seu eu, para longe. Sente um frio percorrer seu braço, apoiado a árvore. Olha o tronco da castanheira centenária de cima a baixo. Imagina esta árvore nascendo, sua luta por entre as folhagens, os insetos que a devoraram, a busca pelo sol, suas raízes penetrando mais profundo do solo arenoso da floresta a cada dia, esforçando-se para encontrar a água da vida.

Percebe que a aquela árvore viveu toda a história de sua floresta, sua colina, os murmúrios do córrego que descia mais adiante (Melquíades também o ouvia) que banhava suas raízes indiretamente. Ouvira cantos de centenas de gerações dos mais variados e lindos pássaros, o pio noturno do bacurau, o grito dos gaviões de rapina, o encanto da dança dos tangarás. Sabia que aquela árvore conhecera muitas irmãs que tombaram em tempestades ou acometidas por doenças, vira muitas nascerem e agora buscarem o alto do dossel para se espraiarem nos raios solares.

Ele então soube da imensa distância de seu conhecimento e de seus valores. Soavam mesquinhos ao lado do ser centenário que assomava a sua frente. Melquíades prostra-se e chora baixo, silencioso, como que respeitando a música daquela floresta.

A castanheira desperta de seus sonhos de árvore com o incômodo de algo à sua raiz e olha abaixo. Vê o que parece ser um primata. Não... engana-se, é um daqueles seres humanos que por aqui são, graças aos deuses ela reflete, tão raros. Já ouvira falar das lendas destes pequenos, que habitam algures pelo mundo, de pequenas mãos segurando objetos violentos que rasgam e sangram os seus até a morte, desnudando a face da Mãe até deixá-la irreconhecível.

A princípio, olha com rancor e ódio. Mas então capta todo o sofrimento do animal. Embora se gabe da sua racionalidade e de seu progresso, vive aprisionado pelos seus medos e pesadelos, a vida com maestria regida por superstições da sua ciência quando muito, pois a maioria vive na fé cega das religiões que nunca foram os melhores exemplos de compreensão e compaixão. Habitam pequenas covas que entulham de coisas sem importância, enquanto se matam para manter um estilo de vida que aos olhos de todos é infeliz, roto, vazio, estúpido e auto-destrutivo. Invejam-se, ó sim, como se invejam dos outros e deles mesmos, e vivem numa eterna incompreensão consigo e com seus pares. A castanheira, ao final, sente pena de Melquíades.

O Diabo está parado. Sabe o que a castanheira e o caminhante pensam. A primeira tem compaixão do segundo. Este, ao contrário, está imergindo lentamente em sonhos densos, nublados, sem esperança. Espera até que o pequeno sujeito aos pés da árvore respire mais profundamente. Vê-o enrodilhado como um cão de rua, ao abrigo das raízes tabulares, e lentamente penetrar no interior do mundo dos sonhos mais profundos.

Só assim Ele se aproxima...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Bares - Fratelli Pizzaria

Inaugurando mais uma seção do blog, vou começar agora a avaliar os bares e restaurantes que eu vou (novamente, minha pretensão me derruba!). Na verdade, é mais uma forma de compartilhar experiências e não esquecer das coisas!

Fratelli Pizzaria
(Endereço: Av. T5, esq. com T65, St. Bueno)

A Fratelli substituiu (com muita tristeza e pesar) um dos melhores botecos que eu já fui em Goiânia, o Dr. Cevada. O Dr. Cevada tinha o melhor torresmo da cidade (sem igual, vinha quentinho, crocante, nada parecido com estes "baconzitos" que encontramos pela cidade), com muita carne de porco em uma porção muito bem servida a cinco reais! Fora dizer que, após derramar um caldinho de um limão bem suculento, ele crepitava a alto e bom som. Sem dúvida, já passei momentos espetaculares no Dr. Cevada (que o diga o Aldão com sua dor de cotovelo heheh)!

Prós: Não cobram 10% (A Bohemia está aceitável a R$4,00). O cara, que eu acho que é o dono, parece o "Dr. House" e a pizza, dizem as más línguas, é boa.

Contras: A variedade de petiscos é nula e cara. O bar é vazio (se bem que isso é um elogio pra mim). O espetinho é muito caro, com pouco acompanhamento. Em suma, eu espero que nunca mais eu volte lá =D

Nota: 4.5

Ah... que saudade do Dr Cevada....