terça-feira, 28 de julho de 2009

Dona Bebeta

Minha vó nasceu em Sena Madureira, lá pelos idos de 1921. Precisamente no dia 14 de outubro. Sena Madureira fica lá no Acre. Lugar longe demais de tudo. Com não sei tantos anos, minha vó foi pra Manaus, e depois para o Rio de Janeiro.

Na ida para o Rio, o navio em que ela estava ficou atracado em Recife, não me lembro, por uns 40 dias. Era Segunda Guerra Mundial: submarinos nazistas patrulhavam nossas costas, enquanto o país não decidia para qual lado pendia sua balança.

Chegando ao Rio, conheceu de pronto um português, Alfredo Duarte. Meu avô veio para o Brasil brigado com família aos 20 e poucos anos, e jurou nunca mais voltar a terrinha: nunca mais regressou. Veio atrás de emprego com outros irmãos, meus tios-avôs, que já trabalhavam por aqui.

Meus avós se conheceram, se enamoraram e casaram. Viveram muitos anos no Rio de Janeiro, onde tiveram dois filhos: meu tio Luiz Fernando e minha mãe, Glória.

Meu avô trabalhou de caminhoneiro, motorista de onibus, frentista e o diabo a quatro. Valente, quase morreu em uma briga de trânsito: o adversário o 'esfaqueou' com uma chave de fenda. Foi parar na UTI, mas não foi daquela vez.

Sabe, meu avô era osso duro. Mas minha avó era maior: tamboril velhaco. A história dos dois não poderia nunca ser resumida assim.

Eu nasci em Uruaçu. Minha avó foi minha segunda mãe. Minha mãe trouxe minha avó para Uruaçu depois que ela e papai se mudaram. A casa de minha avó, uns 100 metros da minha, era meu esconderijo predileto, no fim da rua, quando fugia de casa: sabendo que tinha feito merda quando era moleque. Foi na casa dela que quebrei os dois braços de uma vez: "não sobe na árvore molhada menino", eu fui e estatelei-me no chão. Engessei só um, porque filho de médico: casa de ferreiro, espeto de pau.

Minha avó era a mestre a culinária: a maior de todas, indubitavelmente. Almoços de domingo, com as duas mesas postas na garagem da sua casa: não tínhamos banco, sentávamos na mureta, e dale puxar mureta achando que era cadeira; claro, não moviam. Não posso nem lembrar das delícias porque me doem muito sabe: e não consigo imitá-la, embore tente a qualquer custo.

Eles tinham um galinheiro do lado, que eu gostava de ir pegar os ovos das galinhas, porque era legal correr delas quando ficavam bravas ou separar um pintinho do bando e ficar com ele na mão. Meu avô odiava minha farra no galinheiro.

Eles tinham uma horta também sabe, daquelas pequenas, com pé de couve, alface, um outro tomatinho, cebolinha, salsinha, do lado da casa de ferramentas do meu avô. Um quartinho pequeno, com um armário meio enferrujado, com todas as ferramentas do mundo: eu ia lá e pegava cada uma delas e às vezes perdia, e apanhava do meu avô.

Vovô era muito bravo, e minha avó sabia segurá-lo quando ele pegava o cinto. Não me lembro de nenhuma surra do meu avô, acho que era só ameaça. E com ela aprendi que água com açúcar acalmava os ânimos (embora quando eu tivesse quebrado os braços, a água que meu avô preparara não surtiu efeito: ele não tinha a magia).

Vovô morreu muito lentamente. Muito. Foi dolorido para todos que estavam lá, todos os dias, ele definhando: vítima de vários AVC's. Ele sofreu muito, muito mais que todo o mundo que eu já pude ver sofrendo morrer. Eu aguentava aquilo meio anestesiado, até o dia que ele morreu.

Lembro que a primeira vez que eu o vi, defunto, ele estava com a boca aberta. Não minto, acho que adianto muito o contar. Antes disso, fui católico: batizado, eucaristizado e crismado. Arranjei até uma madrinha de crisma, muito amiga de vóvó, cheia da grana: ela não me deixou um tostão de herança, tia Carminha. Gente boa era ela. Minha avó era carola ao extremo: segurara a mão do Papa João Paulo II quando ele veio em 70 e poucos aqui.

Nessa época, devia ter uns 14 pra 15 anos, eu rezava muito, todos os dias, para que meus avôs só morressem depois que eu tivesse 18 anos: eu precisava já ser forte para aguentar a porrada que seria.

Meu avô morreu em julho de 2001. Ele estava com a boca aberta quando vi. Depois amarram com um lenço seu queixo caído. Minha avó só dizia: "Ai, meu Lopes". O maior amor do mundo. Ajudei a carregar meu avô para a urna, pra dentro do carro, pra dentro da igreja, pra fora da igreja, pra dentro do túmulo. Vovô se foi.

Depois que o vovô se foi, minha família se implodiu. E tudo passou a ser diferente. Minha avó continuou, claro, porque era muito forte, porque era tudo. A nossa caravela, que perdera as velas com meu avô, ainda segurava um prumo com o timão que era minha avó.

Depois minha mãe foi pra Alto Horizonte, e minha avó foi junto, fazia uns 7 anos mais ou menos.

Minha avó era minha macumbeira maior: todas as provas que fiz na minha vida consegui, e tenho muita certeza que somente por causa da magia da minha avó. Eu sempre soube que era bruxaria, que era magia da mais pura, e não tinha nada a ver com religião: era uma conexão íntima com o espírito do mundo. Por mais que novenas, terços e ave marias ela rezasse, toda a energia que ela dispunha ela depositava na gente, na minha mãe, no meu irmão, e em mim. Sempre.

E depois de amanhã eu começo a trabalhar no Ibama: de longe, a maior macumba que ela já fez por mim. Acho que por muito disso, ela se enfraqueceu, talvez: tanta fé e energia tem que ter um fundo aqui.

Eu sei que aquele coração imenso de 87 anos que veio la do Acre, foi ao Amazonas, ao Rio de Janeiro, visitou muitos estados, veio pra Uruaçu, criou-me da maneira mais sublime que podia, parou de bater hoje às 16:05 da tarde, aqui em Goiânia. Ela nos viu ainda hoje, e me reconheceu, como não poderia deixar de ser, falando: "Ah, é o Luizinho...", pouco antes de falecer. Morreu como um passarinho.

Sentada, ela deu somente um suspiro de "ai..." e voou. Não estava lá, minha mãe estava com ela. Meu tio estava viajando. Não reclamou, não chorou, suportou tudo mais que bravamente: ela era porreta, tora de aroeira. A melhor filha do mundo estava do lado dela, acho que ela foi tranquila, olhando para minha mãe.

Minha avó morreu. Minha nau se deita despedaçada. Com ela, vão lembranças de uma época que nunca mais vão voltar, e nem poderiam. Ela se vai com muito de mim, mesmo eu sabendo que muito dela fica conosco. O que resta de nós agora pra frente, não sei dizer.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A canção de Siruiz

Urubu é vila alta
mais idosa do Sertão
padroeira minha vida
vim de lá volto mais não

Corro os dias nesses verdes
meu boi mocho baetão
buriti, água azulada
carnaúba, sal do chão

Remanso de rio largo
viola da solidão
quando vou pra dar batalha
convido meu coração...


Guimarães Rosa
Grande Sertão Veredas

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Convite aberto

Meus amigos.
Fui convidado para participar de uma mesa redonda que acontecerá no II Congresso de Psicologia de Goiás e Tocantins, que será realizado no Centro de Convenções aqui em Goiânia, no dia 22 de agosto, às 10h (dá num sábado).

Fiquei imensamente honrado e feliz com o convite. Quem me colocou nessa roubada, e já tinha colocado a Cristiane foi o grande Belemzeira. Porém estou bastante angustiado: o que será de tudo?

Por isso, para que eu não tenha um troço, ou melhor, para que vejam o troço que terei lá na mesa redonda, convido todos vocês a me ajudarem lá, apoiando este perdido aqui.

Acá abaixo, o convite que abro a vocês para que compareçam impreterivelmente no dia =)

Convidamos V.S.ª para participar, na qualidade de expositor, da Mesa Redonda “Suicídio assistido”, no dia 22 de agosto, das 10h às 12h.

A Mesa será assim articulada:

22/08/2009 - 10h às 12h

Mesa redonda 13 – Sala 3

Eixo temático: Formação e Qualificação

Presidente: Heloiza Massanaro

Tema: Suicídio assistido

Resumo da mesa: Sobre o amor, a morte e as paixões a literatura é vasta e a arte marcada pelas experiências e reflexões do homem em sua tentativa de compreender. Sobre o morrer, o que observamos é a manifestação de medo da dor e busca de alívio para o sofrimento ou o sofrimento de existir. Vamos conversar um pouco sobre: suicídio desassistido, suicídio assistido, cuidados paliativos e políticas públicas.

Expositor 1: Luiz Alfredo Martins Lopes Baptista

Expositor 2: Edirrah Gorett Bucar

Expositor 3: Antonio (Araujo Jorge )


Balões e vuvuzelas são bem vindas hehehe.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sobre Luziânia e um pouco sobre nós

A SEDH/PR (Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República), o Unicef e a ONG Observatório das Favelas coordenaram um estudo que foi publicado hoje. O cálculo, bastante simples: com base nos dados do ano de 2006, estimaram o IHA (Índice de Homícidios na Adolescência) para as cidades com mais de 100 mil pessoas no país. Funciona mais ou menos assim: de cada 1000 adolescentes que completam 12 anos de idade, quantos destes serão assassinados antes de completar 19 anos. Ou em outras palavras: em um período de 7 anos que vai dos 12 aos 19, quantos adolescentes, estimados em grupos de 1000, serão mortos.

Dei uma olhada no estudo. Luziânia desbanca Goiânia e Aparecida de Goiânia (minhas apostas naturais). E não desbanca pouco não: Luziânia é a 15ª (décima quinta) cidade mais violenta para adolescentes do país.

Com um IHA de 5,4 adolescentes mortos em 2006 para cada grupo de 1000, estima-se que num período de 7 anos a partir de 2006, 149 adolescentes serão assassinados em Luziânia. Fazendo uma conta rápida (e talvez até temerária estatisticamente), a cada ano 22 adolescentes são/serão assassinados naquela localidade.

Luziânia integra o entorno de Brasília juntamente com Formosa, Valparaíso, Águas Lindas e Planaltina, região muito conhecida pela sua riqueza e desigualdade, criminalidade e violência. Violência inclusive tamanha que é de conhecimento geral os grupos de extermínio que operam na região, como estampado em matéria do jornal Correio Brasiliense em 11 de maio de 2009, e em uma série de reportagens que a seguiu (a série completa pode ser obtida aqui, disponível em pdf). Luziânia não é Formosa, claro, mas as semelhanças não são mera coincidência.

Goiânia situa-se em 143º, com um IHA de 1,5 adolescentes assassinados anualmente por grupo de 1000. De acordo com as estimativas, em 7 anos serão assassinados 259 adolescentes em nossa capital.

Tênebra?

Creio que não. Se lembrarmos que os dados são de 2006, e que nos últimos 3 anos sentimos nossa sociedade muito mais permeada de ira e ódio do que poderíamos sequer imaginar, podemos, de relance, enxergar como engendramos diariamente este nosso mundo, isolados de nós e dos outros, rogando aos céus para sermos, duplamente, indefesos e inocentes.

O que muito me lembra o poema de Kaváfis.

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À Espera dos Bárbaros

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Konstantinus Kavafis
Tradução de José Paulo Paes

segunda-feira, 20 de julho de 2009

tá chegando a hora...





"o dia já vem raiando, meu bem,
eu tenho que ir embora..."

Atenção companhia: todos para suas tocas!

Ai, ai, ai ai...

Juiz aceita denúncia e Daniel Dantas e mais 13 pessoas viram réus por crimes financeiros

SÃO PAULO - O juiz da 6ª Vara Federal de São Paulo, Fausto De Sanctis, aceitou nesta segunda-feira a denúncia contra o empresário Daniel Dantas , sua irmã Verônica e outros 12 acusados pelo Ministério Público Federal (MPF). Agora, todos os 14 dirigentes do Banco Opportunity viraram réus por sete crimes financeiros, inclusive lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de dinheiro e gestão temerária de instituição financeira. (Confira a lista dos réus e entenda os crimes praticados)

Preso duas vezes durante a Operação Satiagraha, Dantas já foi condenado por De Sanctis, em 2008, a 10 anos de prisão por corrupção ativa. O banqueiro tentou subornar com US$ 1 milhão um delegado da Polícia Federal (PF) com o intuito de barrar a Satiagraha. Ele recorreu e aguarda o novo julgamento em liberdade.

Na decisão desta segunda-feira, o juiz decretou a liquidação judicial do Fundo Opportunity Special, com recursos de aproximadamente R$ 500 a 600 milhões, que tinha como cotistas o próprio Dantas e seus assessores. O juiz determinou a abertura de três inquéritos pedidos pelo MPF, entre eles um que apura o envolvimento com o esquema de Dantas do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh.

Outro inquérito vai apurar a participação de brasileiros no Opportunity Fund e outro inquérito para investigar a compra da Brasil Telecom pela OI. O juiz diz suspeitar da participação de agentes públicos no esquema de Dantas, mas não cita ninguém como suspeito. Segundo De Sanctis, as irregularidades vêm do tempo da privatização do sistema Telebrás, quando o Opportunity detinha apenas 10% das ações da Brasil Telecom mas Daniel Dantas controlava totalmente a empresa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Documentário: "Teatro do Oprimido e outras poéticas"

Aos meus queridos oito leitores:


Saiu uma matéria no jornal Tribuna do Planalto sobre o trabalho que realizamos no sistema prisional goiano com o Teatro do Oprimido, do mestre Augusto Boal. Meu trabalho na prisão é, ironicamente, o trabalho que mais me abriu os olhos durante toda a minha vida. Um dos meus maiores orgulhos é ter fundado e ser parte do Cenáculo Campo Livre.

A reportagem aborda também o documentário estamos realizando, através da entrevista de dois gênios, o Belém e a Cris e eu, este humilde imbecil que vos fala; aliás, documentário este fruto também daquela amizade que, tenho certeza absoluta, nunca desbotará (enquanto outras na vida às vezes definham sem motivo nenhum...).

Nós conseguimos reunir um grupo dos mais espetaculares, em que também participam meus grandes amigos Robson e Gabriel na concepção, meu irmão Raphael compondo a música juntamente com o maestro Jean, que também faz parte da fotografia. Aliás, estes são da trupe, sem contar: Bessa, Lígia, Cam, Rai, Ana Rita, o grande Robson e a professora Luciene: em suma, um mundaréu dos mais gostosos de se ver.

Vale muito a pena a leitura da matéria: foi bem escrita pelo jornalista Gilberto, e consegue passar um pouco de nossa luta diária pela modificação da realidade de nossa cidade: cruel e desigual.

Muita coisa boa vai sair do nosso Cenáculo Campo Livre.

Este documentário dará o que falar =)
Se possível, nos ajudem a divulgar a matéria.

Abraços meus queridos

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Perto das artes, longe do crime
Gilberto G. Pereira

Para mudar uma linguagem calcada nos signos da opressão, do temor e da violência, só outra que seja voltada para a descoberta do sujeito como um importante ator social, descobrindo em si mesmo a dignidade, o respeito e a capacidade de fazer algo bom. Essa é a nova proposta educativa inserida nos centros de recuperação de adolescentes infratores de Goiânia, tendo como base o Teatro do Oprimido, criado pelo dramaturgo Augusto Boal, na década de 70 (veja box).

O trabalho ainda está no começo. Só existe desde setembro do ano passado, no Centro de Atendimento Sócioeducativo (CASE), no setor Vera Cruz, no Centro de Integração do Adolescente (CIA), no setor Marista, e no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. As atividades são aplicadas pelo Colégio Vida Nova, que fica dentro do CIA e é responsável pelas medidas sócioeducativas dos adolescentes.

Mas os resultados já estão aparecendo. Desde que o método foi implantado, a maioria dos internos tem apresentado um comportamento diferente, mais colaborativo, menos tenso, considerando, claro, a situação de marginalizados em que esses meninos se encontram. Já foram realizadas duas apresentações abertas, chamadas de Cena Fórum. A primeira delas foi feita no próprio CIA para familiares e autoridades militares.

A outra alcançou uma platéia maior, no teatro da Universidade Católica de Goiás (UCG), no dia 30 de junho. Na ocasião, seis internos atuaram numa cena conhecida por todos eles, regada de truculência policial e uma carga de violência trazida pela própria experiência de vida, em que três deles faziam o papel dos detidos, dois representavam os policiais e um o delegado.

Dentro desta concepção teatral, as histórias dos adolescentes são postas no palco depois de um longo trabalho de preparação, em que eles próprios desenvolvem falas e gestos, com a ajuda do professor. É como se a linguagem violenta à qual estão acostumados se espremesse até que daí fosse sugerida uma alternativa mais humana. Isso porque os participantes mostram o não raro horror da conduta policial, mas também enxergam a sua própria violência. O resultado está na reflexão posterior, em que descobrem neles mesmos o valor do diálogo e do respeito mútuo.

De acordo com a pedagoga Luciene Pinheiro, diretora do Colégio Vida Nova, o método do Teatro do Oprimido é um espelho para o qual o aluno se volta e vê seu potencial positivo. "Logo de cara me encantei com a metodologia dialógica, em que todos têm voz, permitindo o aluno trazer sua vivência real para ser reproduzida e analisada em cena". Outro entusiasmado com o projeto é o professor Robson Parente, o responsável direto pela implantação do método nas três instituições. É ele quem dá as aulas para os internos, forma os grupos e dialoga com os garotos toda a criação das cenas que serão trabalhadas.

Persistência
Ninguém é ingênuo a ponto de achar que as medidas sócioeducativas farão dos internos um time de anjos. Mas também não dá para descartar a possibilidade de mudar a perspectiva de muitos deles. É assim que pensa Parente. Ele foi contratado pelo Colégio Vida Nova, no começo de 2008, depois de muita gente ter recusado o cargo ao saber que era para trabalhar com adolescentes infratores.

Parente, no entanto, aceitou o desafio seguindo a filosofia do fazer primeiro para avaliar depois. "Sou profissional do teatro há 25 anos, e quando fui chamado pela Luciene eu disse a ela que ia tentar. Nos primeiros seis meses, tentei várias vezes os métodos tradicionais da linguagem teatral. Mas nada dava certo. Os alunos não se interessavam e diziam que teatro era coisa de mocinha", lembra.

Os resultados de suas aulas não estavam atingindo aquilo que ele mesmo propunha como produtivo. Foi quando descobriu que o Centro do Teatro Oprimido, com sede no Rio de Janeiro, daria um curso de formação de professores na cidade de Anápolis. Parente propôs a Luciene a adoção do método. Ela aceitou na hora. Os dois foram fazer o curso, que começou no fim de agosto de 2008, e já em seguida criaram os grupos nas unidades sócioeducativas, com apoio dos respectivos diretores.

A apresentação realizada na UCG, nove meses depois, revelou não apenas o sucesso do parto saudável de uma ideia boa, mas também a vontade da própria universidade em levar adiante o projeto das apresentações. "Eles demonstraram interesse em estabelecer parceria conosco, para fazermos uma apresentação lá a cada seis meses", diz Parente.

Até agora, ele já montou quatro grupos com mais ou menos seis integrantes cada. Desses, um se desfez, em função do término das penas educativas dos participantes. "Pelo que sei, nenhum deles se meteu em confusão e segue normalmente suas vidas", comenta Parente. Os outros três grupos continuam as atividades. Para dar certo, o trabalho teatral com os alunos leva seis meses para cada grupo, da concepção inicial até a Cena Fórum. "Primeiro, eles fazem jogos corporais, sem fala, em seguida trabalham a escrita. Meses depois, desenham as cenas, e por último vem a criação das falas, sempre com liberdade para improvisar em cima", explica Parente.

No CIA, há 40 internos e no CASE, 29. A grande expectativa do professor é que cada vez mais os garotos procurem se integrar ao grupo teatral (porque ninguém participa por obrigação). "Espero que quando saírem daqui consigam ser cidadãos preparados para o grande teatro da vida, sem cabeça curvada, sem violência, com dignidade e respeito." Mas todo esse trabalho pode ir por água abaixo. Como Parente não é funcionário concursado do estado, seu contrato especial está se encerrando agora em agosto, e o teatro nos centros socioeducativos corre o risco de ter de fechar as cortinas por falta de um profissional da área.

Articulador de ideais
O Teatro do Oprimido chegou às unidades sócioeducativas do CIA e do CASE como mais um instrumento de inclusão dos menores infratores. O objetivo é dar a esses jovens excluídos uma oportunidade de enxergar qual é o ponto crucial para a vivência em sociedade. Em Goiás, uma das pessoas que mais lutam pelo processo de inclusão social é o médico psiquiatra e cineasta Lourival Belém, que há décadas está engajado nas questões sócio-políticas e ambientais do Estado. Segundo ele, a sociedade vai mal, o Estado vai mal, e o indivíduo, muito estimulado a ser autônomo do restante do corpo social, também perdeu suas referências e por isso não anda muito bem.

A solução, diz Belém, é o resgate da cidadania de todos. "As pessoas precisam aprender a se preocupar mais com os outros e deixar de excluir por qualquer motivo. Um doente mental não pode ser descartado como lixo, um garoto em medida de internação precisa ser olhado com a perspectiva de que ainda pode ser recuperado", diz. Quando ficou sabendo que a técnica do Teatro do Oprimido seria aplicada nas aulas dos internos, Belém foi o primeiro a aplaudir a iniciativa. E por causa disso, fez muitos elogios à diretora do Colégio Vida Nova, Luciene Pinheiro, e ao professor Robson Parente. Nesse projeto, ele faz o papel de articulador de ideias.

Acostumado às linguagens de representação artística, como o teatro e o cinema, Belém sabe que o apelo teatral é um excelente aliado quando se quer mostrar as verdades que muita gente não quer ver. "É a grande chance de todo mundo se ver, porque será levada para o palco a vida dos internos, incluindo a experiência com os pais, policiais e com toda a sociedade", diz. Uma das ideias que ele trouxe para agregar ao projeto é a realização de um documentário sobre o processo de exclusão social em Goiânia, colocando Teatro do Oprimido no centro da questão. O filme será produzido por ele e dirigido por dois jovens cineastas, Cristiane Leão de Castro, 26, e Luiz Alfredo Baptista, 25.

Na tela do cinema
O documentário sobre exclusão e marginalidade na Capital goiana está sendo rodado nas carceragens, com uma possível abordagem dos problemas nas ruas também. De acordo com Luiz Alfredo Baptista, diretor do filme junto com Cristiane Leão de Castro, já existem 50 horas filmadas, mas o objetivo é ter o dobro desse tempo. Uma das razões que levaram os dois jovens ao projeto foi a vontade de intervir na vida social da cidade. Para eles, a intervenção artística, seja por meio do cinema, da música, da literatura ou do teatro, tem um potencial enorme de transformação. "Goiânia está se tornando uma pequena São Paulo pelo que existe de negativo, com a explosão demográfica e o surgimento de vários focos de pobreza extrema", diz Baptista.

Mas por enquanto, ainda dá para mudar, esta é aposta do jovem cineasta, que vê no Teatro do Oprimido um instrumento de grande força modificadora da realidade. Cristiane também pensa como ele. Foi essa crença na recuperação do ser humano que levou os dois a filmar o trabalho de Luciene Pinheiro e Robson Parente, no Núcleo de Custódia, no CIA e no CASE, para mostrar, quadro por quadro, a força da representação teatral.

Junto com os dois jovens, Belém criou um grupo chamado Cenáculo Campo Livre, que vai realizar vários outros projetos no complexo prisional de Aparecida de Goiânia. Entre eles está o Imagens Aprisionadas, uma oficina de fotografia no presídio feminino para melhorar a auto-estima das mulheres, já com data para ser realizado. Serão cinco sessões de fotos, toda terça-feira, a partir do dia 14 de julho, em que as próprias encarceradas vão escolher a caracterização de suas fotografias.

Boal, o coringa do teatro

Augusto Boal (1931 - 2009) é o grande ícone do teatro brasileiro. O que ele fez pelas artes cênicas no Brasil servirão como diretriz para atores e diretores ainda por muito tempo. Um dos fundadores do teatro de Arena, com montagens antológicas, como Arena Conta Zumbi, em 1965, e Arena Conta Tiradentes, em 1967, Boal trouxe para os palcos uma nova linguagem ao criar o Teatro do Oprimido. Essa metodologia de expressão cênica procura resgatar a dignidade de pessoas ou grupos que se encontram em situação de opressão. Com o teatro e a militância político-social, Boal ganhou projeção internacional. Em 2009, ano em que morreu, fora nomeado embaixador mundial do teatro pela UNESCO, além de ter sido indicado ao Prêmio Nobel da Paz. O principal propagador de sua obra é o Centro do Teatro do Oprimido. Para mais informações do CTO, acesse www.ctorio.org.br.

que dia mundial o quê...

todo dia é dia de rock!
e tenho dito =D

quarta-feira, 8 de julho de 2009

fuzzball! na quarta

Nada pra fazer, uma cerveja e bons fluidos numa final de libertadores.

1º tempo

- esse fábio é um puta goleiro hein? Impressionante a tranquilidade desse cidadão. Pois é, sabe onde ele foi revelado? É... no vasco........ como meu time tem a capacidade imensa de desperdiçar e perder bons jogadores, eu não sei.

-agora, eu ainda não vi os gols do ronaldo. Mas uma coisa eu falo: minha seleção tem ronaldo. Inicio hoje um movimento energético praquele pançudo entrar e forma e jogar mais uma copa. Eu sei, é absurdo, não é? Poisentão: ronaldo na seleção. E tenho dito. Nos vemos daqui a 11 meses exatos.

update 23:04

e que golaços :






E a Cristiane Pelágio ainda vem querer falar pra mim sobre um jovem riquinho sequestrado pelos proprios amigos cabeça oca de merda? Ah francamente...


update 23:45

Puta que pariu, to falando! Dá-lhe bolota!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Taí

Nunca tinha sacado direito o som dos caras.
Por pura escolha. Acho que até um cadinho de preconceituosa ela tinha.

Aí me encontrei com o Sticky Fingers.

Que isso, que maravilha de som.
Só conhecia o rolling stones rock.
Esse cd é muito bom.
Em especial, Can't you hear me knocking
Parece até título do pink floyd.
Não sabia desta sonoridade psicodélica jazzística metálica.

Sonzera mesmo.

A música é original, o vídeo algum fã fez uma coletânea e disponibilizou no youtube
Valeu velho.




sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ibama

Aconteceu.
Saiu a nomeação do concurso em que passei.
Dentro de poucos dias mudarei, novamente, todo o rumo dessa caminhada.
Estou feliz, bastante, mas muito melancólico...
Tantas coisas que construímos nesses 2 anos e meio de Cepaigo, que me saltam à ideia.
Não consigo assimilar toda essa jornada, todas as batalhas, as vivências, as amizades, as cachaças, a proximidade.
Isso tudo graças a duas pessoas que me faltam palavras.
Cris e Belém, muito obrigado.
Em nenhum momento sequer imaginei que me sentiria tão triste, saindo da prisão...